quinta-feira, 12 de novembro de 2009

House e a Ética Médica


O que mais me surpreende em House é a capacidade que a série possui de me surpreender, se é que me entendem.

O recente capítulo, o terceiro da sexta temporada, intitulado "The Tyrant", deixou muita gente perplexa ao ver o inusitado desfecho, onde o médico e o monstro se confundem - conforme a opinião de alguns. Chase, aquele que parece ser o mais "certinho" (e o que possui um lado religioso mais "apurado" do que os demais personagens) é o responsável direto pela morte de um ditador tirano, executor mandatário de inúmeras mortes em seu país de origem. E isto acontece quando todos os telespectadores imaginavam que somente Cameron, colega e esposa de Chase no seriado, é que seria capaz de tomar tal atitude extrema.

É claro que, como tudo o que mexe com conceitos éticos, morais, religiosos ou filosóficos, o episódio da melhor série em exibição da atualidade (na minha humilde opinião), causou um alvoroço de opiniões diversas, principalmente na internet, onde alguns condenaram a atitude do médico e outros exaltaram sua coragem em acabar de vez com a vida do facínora.

Não vou entrar no mérito da opinião em si. Se foi ou não correta a atitude fatalista de Chase, deixo a critério do julgamento de cada um, segundo suas próprias convicções. O que me importa na verdade, se é que em uma série televisiva necessite amparar-se em alguma verdade para agradar ao público, é a capacidade que a série tem de nos chocar e de colocar uma vírgula especulativa perturbadora em nossa consciência.

Não podemos esquecer que estamos tratando de uma obra de ficção e que, como tal, tudo é permitido. Se nos conformamos em ver na telinha extraterrestres esquisitos, monstros surreais, políticos honestos, entre tantas outras coisas improváveis, porque então não podemos lidar com uma situação que pode ser bem mais real cotidianamente?

A resposta talvez repouse no entendimento que temos acerca do caráter ético, fomentado por princípios que adquirimos através da sociedade, família, religião e da nossa própria experiência de vida e de raciocínio lógico, característica básica dos seres humanos(eu sei, eu sei, nem todos...). Temos este estranho hábito da indignação instantânea quando algo esbarra de frente com nossas convicções, mas devemos entender, ou ao menos tentar, que trata-se de uma arte ficcional e nada mais. E vou além: muitas vezes é através da arte que começam a ser quebrados tabus e conceitos antes imutáveis, principalmente através da televisão, devido ao enorme alcance deste veículo de comunicação. É através da arte que, comumente, a sociedade é apresentada para um novo ângulo sobre determinado assunto. Apesar de que, muitas vezes, apresentam-nos um ponto de vista estratégico, ou seja, aquele que interessa à emissora (no caso da TV) que o apresenta, mas isto é outro assunto.

Mas, voltando ao House... Eu fiquei, como já coloquei acima, surpreso, positivamente falando, com o desfecho do aludido episódio e achei que minha cota de surpresa estava preenchida até o final do ano, quando...

Depois eu volto ao "quando", pois cabe aqui uma pequena observação: um assunto que tenha alguma repercussão por parte do público e que possa ser considerado negativo sob o ponto de vista da perda de audiência, as emissoras costumam mudar a postura do programa que levantou a discussão e tentar uma compensação, mudando para um tema mais ameno, mais ético e é exatamente isso que eu achei que iria acontecer com a série, iriam "pegar mais leve", mas não aconteceu o que eu imaginava...

Pois, voltando ao "quando", e achando que a série iria diminuir a dose de surpresas, meu queixo quase cai ao assistir o capítulo 6 da mesma temporada(Known Unknowns), onde o Dr. Wilson (sim, aquele CDF, o Dr. Certinho, politicamente correto e coisa e tal), ao ver o sofrimento angustiante de um paciente terminal de câncer que estava sob seus cuidados médicos, facilita de tal maneira as coisas para o moribundo, deixando discretamente que o mesmo saiba a maneira exata de aumentar a dosagem de sua aplicação de morfina e, com isso, acabar com o próprio sofrimento, fazendo com isso vir à tona mais um tabu: eutanásia. É pouco ou quer mais?

Apesar de que a Fox, o canal de TV que financia e transmite o seriado, ou seus produtores, preferiram manter o personagem principal, o Dr. House, correndo por fora no páreo, pois os "crimes" foram cometidos por outros personagens, Chase e Wilson, e não pelo já tão polêmico personagem principal, apesar da conivência explícita deste.

Aguardo ansioso pelo próximo capítulo, para ver o que mais nos reserva esta série tão apaixonante (opinião de fã, eu sei...) e que mudou completamente o perfil que viamos nas primeiras temporadas, onde tinhamos a doença quase impossível de se diagnosticar e o médico gênio que, contrariando a tudo e a todos, salvava a vida do paciente já condenado clinicamente, para um novo perfil mais dinâmico, suscitanto assuntos polêmicos, tudo isto regado aos joguinhos do médico que tem apaixonado milhares (ou milhões, não sei...) de telespectadores no mundo todo.

Que House continue a nos surpreender.


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