domingo, 13 de dezembro de 2009

Natal


Ontem, sábado, fui ao centro da cidade com a finalidade de comprar um presente para o amigo secreto. Sim, nesta época o que mais temos são gastos. Estamos em pleno verão mas Porto Alegre, ontem, tinha um aspecto invernal: o céu estava cinza, muito vento e uma garoa constante que, eventualmente, transformava-se em uma pancada torrencial de chuva. Mesmo assim, sendo um sábado atípico para a época do ano, muito propício para que as pessoas fiquem em suas casas, no conforto do lar e longe das do vento e da chuva, o centro da cidade estava muito movimentado. Pessoas indo e vindo, com pressa e com muitas sacolas. Lojas cheias, segurança redobrada, vitrines decoradas e muitos atendentes felizes na tentativa de satisfazer o melhor possível ao público porque, sendo contratados temporariamente, possuem a esperença da efetividade e de um emprego fixo.

Estamos no período natalino e, exatamente por causa disso, as pessoas tomam um rumo mais apressado em seu cotidiano. Todos querem comprar os presentes que irão ofertar aos seus amigos e familiares, as decorações, os enfeites e a árvore e ainda preocupam-se com a ceia, ou seja, o jantar do dia 24 de dezembro, onde comumente o peru é prato principal, acompanhado de muitas iguarías culinárias, as quais não estamos acostumados a comer durante o resto do ano. E muita, muita bebida alcoólica, infelizmente. É a época que muitos caracterizam como mágica, onde as famílias costumam se unir para celebrar o suposto nascimento de cristo. É um tempo de reencontros.


Muitos me perguntam o que o natal significa pra mim, já que sou ateu e o natal é uma festa estritamente cristã. Aqui há um porém muito importante: o natal não é uma festividade “estritamente” cristã. Quem conhece um mínimo de história sabe que os cristãos apenas incorporaram a data, de origens pré cristãs, ao seu calendário, na tentativa de aproximarem-se dos povos “pagãos” recém convertidos que festejavam já o solstício de inverno, que é a verdadeira origem das comemorações do 25 de dezembro. A data tem vários significados, dependendo do local e das crenças do povo. Os romanos comemoravam o nascimento do deus sol, com muita festa, orgias e bebidas. O sol é o grande “aniversariante” da data. Os cristãos só juntaram o útil ao agradável.

Mas, como eu ia dizendo, muitos me perguntam, inclusive, se não é hipocrisia da minha parte, que eu compre presentes para os amigos e filhos e participe da ceia com a família. Não vejo as coisas desta meneira. Vejo o natal como uma época de festividades, conjuntamente com o ano novo, onde as pessoas festejam, como na pré-história, o final de um ciclo e o início de outro, só que com uma diferença significativa: o 13º salário...

Eu não festejo o nascimento de nenhum deus, ou semi-deus, e sim entro no clima dos que convivem comigo, onde vejo a oportunidade de reencontrar amigos, confraternizar com familiares e ver que o ano que está acabando foi bom e que isto vale uma comemoração, ou, se o ano não foi tão bom assim, planejar o ano novo que irá começar. Isto acaba sendo algo inconsciente.

Na verdade o natal e o ano novo, pra mim, são dias iguais aos outros, nada muda, exceto o fato de que o governo resolveu premiar minha conta bancária com um acréscimo monetário, o 13º salário, e me possibilitou tirar uns dias de folga da rotina extressante do trabalho e, juntando isso ao fato de eu conviver em uma sociedade de maioria cristã, comemorar o natal a minha maneira e faço questão que respeitem a minha descrença, mas para isso tenho que respeitar a crença daqueles que vivem, trabalham e fazem parte do meu convívio durante o ano.


Se for para comemorar algo, que seja algo importante, como os povos da antiguidade faziam, adorando o sol, mas não como um deus e sim como um astro de extrema importância para o planeta, pois sem ele não haveria vida na terra. Então, talvez, no dia 25 de dezembro eu faça um brinde ao sol, que tanta importância tem para o mundo em que vivemos e, mesmo assim, não nos cobra nada, não nos obriga a seguir nenhuma lei, não nos castiga por atos cometidos. Ele apenas está lá, cumprindo o seu dever enquanto pode, sem ao menos saber de sua vital importância para toda a vida do planeta.

sábado, 28 de novembro de 2009

O Ateu




Muitos tentam definir o que realmente é ser um ateu . Várias são as colocações que tenho lido e ouvido para adjetivar aquele que não crê em deus/deuses. Como muitas dessas definições partem de religiosos e, exatamente por causa disso, sofrem o vício da parte quem o define, pois um ateu, na maioria das vezes, já foi um religioso e sabe o que se passa na cabeça de quem acredita em uma deidade, já o religioso não sabe o que é ser um ateu, pois nunca experimentou a sensação de ser livre de crendices e pensamentos religiosos. Além do mais, as definições feitas por parte dos religiosos costumam ser caricatas e a distanciarem-se da verdade, seja por desconhecimento de causa, devido ao que escrevi acima, ou seja por maldade de querer descaracterizar um pensamento do qual não compactuam e também não entendem.


Como todos sabem, e isto não escondo de ninguém, eu sou ateu e, por mais incrível que isto possa parecer, pra mim também é difícil definir com exatidão o que é ser ateu. Não trata-se de dar a definição de ateísmo e, a partir dela, levando-se o pensamento na correnteza da lógica que costuma nos enganar e sim definir o que é e como é a pessoa que se diz adepta do ateísmo, o ateu em questão. Muitos religiosos, aproveitando-se do fato de que o prefixo “a” ter sentido de negação, tentam caracterizar o ateu como sendo aquele que nega o deus que o caracterizador acredita, como quem diz “eu nego o teu deus, mas creio em outros”. Isto é pura besteira e costuma ser um artifício, malicioso diga-se de passagem, usado por quem não aceita que alguém não creia em algo e então julgam que o ateu, ao negar deus, esteja negando o seu deus particular. Ateu não crê em nenhuma forma de divindade. Isto é o básico.


Também, colocando neste sentido torto, os cristãos, em particular, gostam de afirmar que o ateu, por não acreditar em deus (e este deus, para eles é exclusivamente o deus cristão), é taxado de satanista, adorador do demônio, luciferiano e coisas do gênero. Não sei se é para rir ou chorar de tamanha ingenuidade, pois, se um ateu não crê em deuses, incluindo ai o deus judáico cristão, é óbvio que não crê também em demônios e similares, já que, como teriam estes sido criados por este deus, que, segundo a ótica bíblica foi o criador de tudo o que existe. É mais simples do que aritmética básica.

Acerca do fato de eu não poder definir com exatidão o que é ser ateu, eu explico... O que ocorre, na verdade, é que o ateu é uma pessoa igual a qualquer outra, que possua ou não a necessiadade de crer em algo sobrenatural e que não possa ser provado. O ateu pensa, se relaciona, vive, convive, ri e chora, ama e odeia como qualquer outra. A única diferença é que não acredita em divindades, o que passa a confrontar-se com a idéia generalizada na maioria da população de que é obrigatório que exista um deus, ou vários, controlando o mundo que nos cerca e a nossa vida particular, ou um deus, como algumas correntes de pensamento aludem, que nem saberia que é realmente um deus, apenas seria uma força que move, aleatoreamente o universo.


Se eu me propor aqui a definir o que é ser uma teu, como tensiono fazer, eu terei de me basear somente em mim, naquilo que penso e da maneira como ajo no meu cotidiano e a partir da minha compeensão de mundo e de vida. Por isso, o que colocarei aqui, não é nenhuma regra ou exemplo a ser seguido e sim a idéia que, através do que sou e dos ateus que conheço, representam o meu ponto de vista sobre o assunto. E escrevo isto mesmo sabendo que várias pessoas estão tentando se agrupar e impor regras e posturas para quem, tão simplesmente e nada mais do que isso, não acreditam em deus.


Uma das afirmações mais indevidas que tenho visto e ouvido é de que um ateu é uma pessoa potencialmente propensa ao mal por não possuir “em seu coração” a idéia “divina” e limitadora de uma corrente religiosa. Esta afirmação, além de inverídica, é de uma infantilidade fora do comum. Não há prova nenhuma que relacione o caráter de uma pessoa, para o bem ou para o mal, em virtude de ser esta pessoa adepta ou não de uma corrente ou pensamento religioso, além do mais teriamos de entrar em uma discussão filosófica interminável acerca do que seria o bem e o que seria o mal.


Vou usar, para início de conversa, três exemplos: Charles Chaplin, Dr. Dráuzio Varella e Paulo Autran. Três pessoas conhecidas, sendo o primeiro um grande vendedor de poesia em forma de cinema, reconhecido pela sua sensibilidade no mundo inteiro; o segundo é um médico e escritor conceituado e o terceiro, não menos conceituado aqui no Brasil, um dos maiores atores de teatro e televisão que o nosso país já conheceu. Alguém de sã conciência diria que estes três exemplos que eu citei teriam uma “propensão para o mal”? Pois, para quem acaso não souber, estas três pessoas ilustres sempre assumiram-se ateus. Agora vamos pegar mais três exemplos: Stalin, Mao Tse e Fidel. Se juntarmos todas as mortes que tiveram a mão, direta ou indireta, desses três ditadores, sabidamente ateus também, daria para encher um oceano de sangue. E agora? Que conclusão tiramos disso tudo?


A conclusão é óbvia: a convicção religiosa (ou a falta dela) não é fundamental para definir o caráter e a postura moral de uma pessoa. Eu poderia, indo ao outro extremo, citar exemplos de pessoas religiosas de conhecida boa índole e também assassinos brutais e ditadores ímpios confessadamente religiosos. Não é a crença em um deus que deixará uma pessoa imune ao que conhecemos como maldade. Alguns, principalmente cristãos, alegam que sem a observância da lei do seu deus é impossível para alguém ter uma postura reta e uma conduta dentro dos princípios considerados normais e agindo conforme a abservância da lei, mas isto é outra ilusão de raciocínio, pois temos leis que regem a nossa sociedade e é através dela que uma pessoa deve espelhar-se para escolher as atitudes a serem tomadas no seu dia-a-dia, pois, do contrário, ao cometer algum ato que vá de encontro aos preceitos que estas leis regem, a pessoa estará sujeitando-se à punição que advém delas, assim como o cristão que, ao infligir a lei do deus que acredita, está ciente que, de acordo com sua crença, poderá ser castigado por seu deus. (E ele castiga mesmo, vide a bíblia)


Outra afirmação que é comum dentro do pensamento religioso é a de que um ateu é uma pessoa infeliz, sem esperança e incapaz de amar. Mais uma vez o raciocínio limitado, pelo desconhecimento de causa já citado, erra groceiramente ao avaliar o que desconhece. Sobre o amor, aqui mesmo neste blog, já escrevi e coloquei a minha opinião, não sendo necessário repetir. Sobre infelicidade, mais uma vez teriamos de abrir uma discussão filosófica sobre o que, na verdade, este termo significa, individualmente ou dentro de um contexto mais amplo. Eu me considero feliz na maior parte do tempo. Infeliz, eventualmente, quando algo dá errado ou alguma preocupação me assola, não mais do que isso, que, resumindo, é o que sentem todas as pessoas, ateu ou religioso. A felicidade plena não existe, pois se estamos plenamente felizes, estaremos tristes pelo tédio de não termos nada mais para conquistar. A felicidade plena, se existisse, seria algo tão em desacordo com a filosofia humana que nos pareceria, a grossos olhos, que o mundo a nossa volta já não teria mais sentido. Pense nisso.

Algumas religiões alegam que a felicidade completa virá, algum dia, por conta do seu deus ou deuses, mas isto é apenas uma suposição, muitas vezes não analisada friamente por parte de quem acredita, ou seja, esperança pura e que não pode ser provada. Esperança esta que os religios alegam que nós ateus não possuímos. Eu, particularmente, prefiro ter esperanças em coisas que sei serem concretas. A esperança em uma ilusão não me convence e nem me atrai, pois aprendi a ser prático nas coisas que me são importantes. Os cristãos e os judeus têm a esperança de viverem eternamente ao lado de Javé (como se viver eternamente possa ser uma benção); os islâmicos matam e morrem na esperança de que, ao chegarem ao céu, gozarão a eternidade entre as pernas de 72 virgens que, serviçalmente, lhes aguardam submissas; os espíritas têm a esperança de ver cessar o ritmo perturbador de reencarnações a que estão escravizados e tornarem-se espiritos de luz, seja lá o que isto seja. E o ateu, que esperanças possui, perguntas os crédulos de plantão?


O ateu tem a esperança, entre outras coisas, de ver o ser humano viver em prol da humanidade e não perdido entre ilusões celestiais, angelicais e deístas. O ateu tem as esperanças normais que qualquer pessoa possui em sua vida, com exceção de que nestas esperanças não há lugar para o improvável. Parece pouco, mas ganha-se muito em encarar a realidade de frente, de uma vez por todas, ao invés de perdermos boa parte de nossa vida entre devaneios e elucubações místicas, aguardando a ajuda do etéreo para resolver os nossos problemas que, tão simplesmente, necessitam apenas de nós para serem resolvidos.

Outra afirmação que tem se firmado, principalmente com o advento da internet e com a facilidade que ela propicia em aglutinar grupos e opiniões, é a de que os ateus julgam-se superiores aos teístas, sob o ponto de vista intelectual e no que tange ao raciocínio. Infelizmente é verdade que muitos ateus têm caido nesta cilada, mas não é uma opinião unânime entre aqueles que não acreditam, felizmente. Isto também é uma besteira, pois não podemos medir a capacidade intelectual e de raciocínio de uma pessoa levando-se em conta a sua fé ou a falta dela. O caráter do “acreditar” parece que se firmou no gene social, pela repetição, pela afirmação da existência de um mundo sobrenatural desde que somos crianças e isto acaba por fixar-se no inconsciente das pessoas e torna difífil, em alguns casos, admitir que estamos sozinhos no universo, sem deuses a olhar por nós, mas isto não inibe a capidade de raciocínio lógico, mesmo que a crença em divindades, ao meu modo de ver, vá de encontro a esta capacidade lógica de raciocínio.


Temos inúmeros teístas intelectuais, de ontem e de hoje, que desmentem a máxima de que os ateus são mais inteligentes do que os religiosos, e acho que isto já é prova suficiente. Talvez esse pensamento falacioso tenha nascido da observação de que muitas pessoas, com um bom nível de conhecimento histórico e/ou científico, compõem uma grande parte dos ateus declarados e, em contrapartida, aquela parcela das menos esclarecidas, culturalmente falando, costumam, e isto não é regra também, compor o conjunto de pessoas ligadas às igrejas mais fundamentalistas, e isto em termos de cristianismo. Mas não é nada de que possamos tirar uma conclusão apressada e distorcida dos fatos.

Há também aquela clássica afirmativa, e que mais uma vez, por ser apressada, não corresponde à verdade, de que os ateus só assim declaram-se por desconhecer a palavra bíblica e de não saber que a mesma é a fonte de toda a salvação -e esta é uma afirmação particularmente parte dos adeptos do cristianismo. Existe nessas palavras um enorme, e bota enorme, desconhecimento acerca do que elas afirmam. Via de regra, a maioria dos ateus conhecem tanto ou até mais acerca da bíblia do que os próprios cristãos que a tem como fonte de inspiração. Um ateu costuma conhecer todos os aspectos que envolvem este controvertido livro, se é que podemos chamar a bíblia de livro, mas vá lá. Conhecer a bíblia não é somente decorar os versículos e sair a citá-los como quem repete um mantra, como é costume de muitos cristão. Conhecer a bíblia é entendê-la num contexto de espaço e de tempo, compreender os objetivos e as finalidades que determinaram a composição de cada uma de suas estórias e saber de suas origens, das lendas de outros povos que inspiraram as epopéias que nela contém. É saber que os babilônicos, só pra usar um exemplo, foram o povo responsável pelas leis mosáicas e a bizarra estória do dilúvio. Mas o cristão comum, aquele mais fundamentalista, principalmente originado dos cultos pentecostais, não entende assim. Ele acha que a bíblia é a palavra original de deus e ponto final. Qualquer prova histórica que aponte a verdade é considerada coisa do demônio.


Conheci um pastor batista que afirmava ser pecado instruir-se. Estudar e ter um mínimo de conhecimento, para este pastor, era considerado um pecado de ordem gravíssima. E sabemos o porquê: a instrução leva ao questionamento e isto, para os que vivem da exploração da ingenuidade e credulidade dos mais simplórios, culturalmente falando, é um perigo assustador.


Claro que existem os ateus de fim-de-semana, que declaram o seu suposto ateísmo por rebeldia ou por necessiadade de aceitação dentro de um determinado grupo, mas são minorias.


Esta opinião acerca do que é “ser ateu” é uma opinião minha, particular. Ela foi moldada, principalmente, baseando-se naquilo que sou, que entendo e como costumo agir e através da observação e do contato que tenho com outros ateus, na maioria virtuais, mas que me possibilitaram tentar encontrar um denominador comum para definir, vagamente, como é e como pensa um ateu. Isto é apenas um texto que escrevo na tentativa de explicar para os que não são ateus e não entendem direito o que se passa em nossas cabeças céticas, mas não é nenhuma a regra a ser seguida, pois para ser ateu não existe regra, exceto o fato de não crer-se em divindades.


O ateu, afinal de contas, é uma pessoa como qualquer outra, o que nos diferencia da imensa maioria teísta da sociedade é que vivemos livres. Livres de um pecado que não cometemos, como o pecado original judaico cristão, livres do medo do castigo por raciocinar, livres do machismo imposto pela maioria das religiões, e principalmente, livres para viver.

domingo, 22 de novembro de 2009

Os Sinais do Fim dos Tempos




A maior precupação das grandes religiões monoteístas, principalmente do cristianismo, que possui um livro específico do qual se alega tratar do assunto, o Apocalípse, é o final dos tempos e o julgamento dos seres humanos, conforme a observação de seus livros sagrados.

No caso dos cristãos a preocupação é maior ainda, pois Jesus, o messias cristãos que voltaria para estabelecer o reino de deus, afirmou, em Mateus 16: 28 que “
Em verdade vos digo que “alguns há, dos que aqui estão, que não provarão a morte até que vejam vir o Filho do homem no seu reino”, e também, em Mateus 30:34 – “Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que todas estas coisas aconteçam.” Pois Jesus não cumpriu o prometido.

Desde o início do cristianismo que os seus adeptos esperam a volta do messias, que hoje, onde o estudo da história não mais sofre a censura criminosa que antes sofria por parte dos defensores desta religião, mostra-nos que nem é certo afirmar que ele um dia foi, quanto mais que irá voltar.


Os cristãos inventam mil e uma desculpas para justificar o erro das afirmações de Jesus contidas na bíblia acerca de sua volta iminente: que é erro de interpretação, que uma geração, para deus é medida, em termos de tempo, de forma diferente da qual nós os mortais medimos, que ele quis dizer outra coisa e que nós não sabemos interpretar os “mistérios de deus”, e etceteras intermináveis... Claro que um deus desses prefere usar de frases e meios complicados para manifestar-se aos seus lacáios, ops, digo, adoradores. Melhor seria, um deus do qual se diz amar extremamente sua criação, no caso nós, ter usado de meios, palavras e intenções mais claras, não é verdade? Mas para o cristão a coisa não é a assim tão simples, pois eles precisam do mistério, da magia e da incerteza para poder continuar a acreditar, pois se a coisa for mais “clara”, eles inevitavelmente verão que foram redondamente enganados.

Como já aludi anteriormente, além das palavras de Jesus para afirmar acerca do final dos tempos, os cristãos usam muito de um livro bíblico em particular, o Apocalipse, atribuído a João, o apóstolo mais novo de Jesus. Livro este que, para não ficar longe da fórmula apropriada no mundo cristão, é escrito de forma complicada, com figuras mitológicas de dragões, espadas e cavaleiros, fogo e, como parece ser mais uma preferência dos escritos bíblicos, muito, mas muito sangue.
O Apocalipse, ou revelação, muito provavelmente foi escrito por volta do ano 90 d.c, durante o reinado do Imperador romano Domiciano e foi redigido em grego, tendo como destinatários as comunidades cristãs da Ásia Menor. Os historiadores afirmam que Domiciano, que tinha sua “marca”(nome) em todas as moedas cunhadas por Roma, seria a dita besta que é referida no Apocalipse, pois o seu nome, através da gematria, método antigo de se atribuir número ao valor da soma das letras -pois não usavam-se, na escrita grega, os números e sim letras que faziam o papel deste – somando-as, chegamos a 666. Outros afirma que, usando-se o mesmo método, chega-se a Nero, outro Imperador não menos carniceiro do que Domiciano.Quem escreveu este livro, quis dizer que os cristãos venceriam a perseguição que Domiciano empenhava-se contra estas comunidades crédulas em Jesus. O Apocalipse tem o caráter da atualidade da época em que foi escrito. A volta de Jesus seria, na crença de quem escreveu, em pouquíssimo tempo, com a finalidade de estabelecer de imediato o reino prometido por Jeová ao seu povo. Reparem que o Jesus que é retratado no Apocalipse não possui o mesmo caráter de paz e de amor que, através dos tempos, da helenização e, posteriormente, ocidentalização do cristianismo, estamos acostumados a tratar. O Jesus do livro supostamente escrito por João é um Jesus de espada na mão, pronto para traspassar o fio desta no pescoço de quem não acreditou em suas palavras e, por fim, lançá-los ao sofrimento eterno no inferno. O Jesus apocalíptico está mais para Barrabás, pois a crença do povo da época era de que o messias voltaria como um guerreiro e não, como hoje, através de um discurso disfarçado pelos cristãos, no intuito de fazer parecer o messias como sendo um Jesus-Gandhi.

Mas, mesmo com evidências históricas que demonstram que o livro do Apocalipse é bem mais simples do que querem fazer-nos crer, os cristãos preferem acreditar que o fim dos tempos está próximo e, inclusive, parecem torcer por isso. Muitos afirmam que a hora é agora, que Jesus já está afiando a navalha de sua espada e encilhando o seu cavalo alado para vir, de uma vez por todas, instituir o reino de deus e castigar severamente os incrédulos como eu. Vários fatos, dos mais simples aos mais complexos, são apontados como sendo indicios de que o mundo está prestes a acabar.

Afirmam os cristãos, desesperados para ver sangue derramado-se e carne fresca queimando, que as evidências estão todas ai, aos nossos olhos, e que o pior cego é quem não quer ver (eles adoram estas frases de efeito). São filhos contra pais, guerras, desastres naturais, crimes sangrentos, entre outros fatos que apontariam para o fim inevitável e imediato. Mas será que, se analisarmos tudo com um pouco de cautela, teremos a mesma opinião devastadora destes crédulos sádicos?


Vivemos em um mundo que possui sim guerras, crimes horrendos e desastres naturais, mas, por incrível que pareça, a época em que vivemos é bem mais amena do que tempos atrás. A humanidade já conheceu guerras muito mais sangrentas e arrasadoras do que os poucos conflitos que existem atualmente. O mundo nunca esteve tão tranquilo, por maior absurda que possa ser esta afirmação que faço. Quem acompanha os noticiários sabe que não há exagero nas minhas palavras. Filhos contra pais? Bem, eventualmente acontece alguns casos, mas desde que o mundo é mundo que escutamos estas histórias, mas não tanto como em épocas passadas onde era quase uma regra, principalmente na classe dominante e política, onde reis eram destronados por seus filhos, padres eram mortos por seus filhos (sim, padres, você leu certo), papas eram mortos por interesses políticos e coisas do gênero. Hoje em dia notícias como estas nos espantam exatamente pelo fato de serem tão atípicas. Desastres naturais são também fatos que acontecem desde que o planeta se formou e sempre irão acontecer.
Nunca vivemos, principalmente no ocidente, tão irmanados com a democracia, com os direitos humanos e com a liberdade de ir e vir. Hoje as mulheres, na maioria dos países, já possuem o direito ao voto e, felizmente, igualdade de direito com os homens. A tecnologia nos permite a comunicação instantânea, a medicina cura doenças que antes acreditavam-se como sendo males espirituais e/ou demoníacos. Não existe mais a escravidão institucionalizada, os negros, no Brasil e EUA principalmente, tomam a cada dia mais espaço nas artes, política, esportes e na sociedade. As crianças possuem, como nunca na história da humanidade, direitos preservados e garantias a uma infância real. Ditadores autoritários e sanguinários são cada vez mais raros. Opções sexuais são respeitadas cada vez mais.Se o mundo tivesse de acabar por conta dos “sinais apocalipticos”, já deveria ter acabado há muito tempo, onde as “condições profetizadas” eram muito mais propícias para isso.

Temos um mundo perfeito hoje? É claro que não. Problemas ainda existem e sinto informá-los que sempre existirão. Fome, pobreza, criminalidade, preconceito, abusos, fazem parte da história da humanidade, mas o ponto que eu quero chegar é que, cada vez mais, as nações do mundo começam a dirimir estes aspectos negativos e a tentar solucionar tais males. Não estou defendendo nenhum campo político atual e sim tentando mostrar, aos olhos religiosamente mais cegos, que as coisas hoje são inumeras vezes melhor do que em séculos passados.


O planeta terra e a vida que nele contém, principalmente a humana, irá acabar? Com certeza, pois nada dura pra sempre, mas não vai ser, como alguns acreditam, em um festival carnavalesco, regado a espada e banhos de sangue, ao som de trombetas de ouro e julgamentos onde o direito ao contraditório e a ampla defesa inexistem e sim por nossa própria culpa. Estamos esgotando os recursos naturais de nosso planeta, a camada de ozônio é uma preocupação constante, as mudanças de clima, enfim. Nós, muito provavelmente, acabaremos com a nossa espécie neste belo planeta azul, por ignorância e teimosia própria e não pela providência e vontade dos deuses que inventamos.

Observações Niilistas


Eu tinha um blog, em 2008, chamado de “Observações Niilistas”. Isto no tempo em que, no Orkut, meu “nickname” era niilista. Muitos me perguntam o porque de eu haver abandonado esta alcunha e, também, as razões por eu não mais atualizar o blog, onde a última postagem foi no dia 15 de novembro de 2008.

Primeiro, quanto ao nome, eu me sentia como se estivesse perdendo a identidade. Amigos, antigos e novos, tentavam me encontar no Orkut pelo nome e não me achavam. Também tinha o fato de que muitos não entendiam o que eu queria dizer com “niilista”, achando com isso que eu andava com um punhal a cortar os pulsos e chorando pelos cantos do mundo com um sentimento de perda e desesperança, dado ao sentido deturpado que este termo passou a ter nas últimas décadas, adotado principalmente por novas tribos urbanas de jovens sem personalidade e esbanjando falta de originalidade para formatar o seu entendimento de mundo. Não vou explicar o que é niilismo aqui, se você acaso não souber basta ir no Google.

Quanto ao blog e a falta de atualizações a coisa é mais técnica do que parece. Eu trabalhava à noite, onde não fazia absolutamente nada. Ficava só na internet, no Orkut, MSN e afins. Muito tempo sobrava para escrever e a atualizar o “Observações Niilistas”. No início de 2009 eu assumi uma vaga, através de concurso, como funcionário público, em uma cidade da região metropolitana de Porto Alegre, 40 km de distância de onde moro. São 30 minutos de ônibus e mais uns 45 minutos de trem para chegar lá, e depois tem a volta. Saio de casa às 7h e retorno às 20h. Pouco tempo me sobra e então, de início, eu senti que não daria conta de escrever, e os meses foram passando...

Há pouco tempo eu resolvi voltar a emitir minha opinião sobre vários assuntos, a maioria ligada ao ateísmo e religião, já que muitos me conhecem como moderador de comunidades sobre o tema. E aqui abro um parenteses. Já me perguntaram: você só fala de ateísmo? Não possui outro assunto? Sim, eu sei que as coisas parecem repetitivas em meus textos, mas a iniciativa, ao criar o primeiro blog, foi exatamente esta: desmitificar o termo ateu e tentar mostrar, para aqueles que tiverem a mente aberta para captar, que as idéias sólidas das religiões não são tão sólidas assim. A verdade absoluta em termos de religião só são absolutas para aqueles que preferem tapar os olhos e os ouvidos e seguir, cegamente, a acreditar em algo que não passa no mais simples crivo cético. Eu também escrevia no Neo-Ateus, blog criado pelo meu amigo Rafael, como colaborador e, juntamente com o Johnny, em um outro blog que durou tão pouco que sequer recordo o nome. Não sei se o blog foi deletado pelo Google ou pelo prório Johnny, já que ele, o Johnny, é meio instável, principalmente com suas idéias estranhas de “ateu-vegan-superior”, seja lá o que isto signifique, mas é a opinião dele e eu respeito, desde que ele não queira me obrigar a compactuar com suas idéias, como quando fez na A&A (comunidade do Orkut), onde tive de expulsá-lo. Mas ele é um cara legal, só esta meio perdido ao substituir as crenças em deuses que antes possuia, por crenças socilógicas e culinárias acerca de ética e moral. Já o Rafael deve estar chateado comigo porque eu não mais escrevi no Neo-Ateus, mas a explicação é mesma – falta de tempo. Mas também, agora o blog do Rafa tomou um rumo que difere da minha opinião, indo de encontro ao extase dos grupos, partidos e associações de ateus. Mais um motivo para eu me afastar e ficar só com a minha opinião, colocada de forma direta como é o meu costume, para que não criem-se desavenças e nem conflito de idéias.

Assim, como eu escrevia antes de abrir tão longo parenteses, eu quis voltar a manter um blog e achei que seria estranho escrever em um que há muito estava abandonado, do qual mal lembrava acerca dos assuntos que eu lá havia tratado. Por isso resolvi crir este blog novo, onde pretendo ser mais amplo em minhas opiniões. Decidi então escolher os 3 melhores textos que, para mim, foram os melhores daquela fase do “Observações Niilistas” e, então, irei deletar o aludido blog. Não vejo muito sentido em mantê-lo sem atualizações. Desde já agradeço ao amigos e pessoas que, mesmo discordando do que liam, visitaram e comentaram o meu blog que, com tanta satisfação, mantive por quase um ano.

Os textos que escolhi coloco-os abaixo, sob a denominação de “resgatando”, e, com isso, dou adeus àquele blog e prometo que tentarei manter este novo atualizado, na medida do possível.

(Recuperando 1): Mariazinha e o Anjo


Texto que escrevi no blog "Observações Niilistas" em 16/04/2008:

Era sábado, e como costumam ser os sábados de outono, fazia um certo friozinho acalentador.

O hospital aos poucos ia tomando ares de local público movimentado, apesar de ainda ser muito cedo. Mariazinha olhava o seu filho que acabara de mamar. Tão pequeno por conta de um período de gravidez com dificuldades. Seu marido desempregado, as contas, a falta de alimentos.

Ela agradecia a Deus por tudo ter dado certo. A criança nascera um pouco fora do peso, mas agora, depois de um período de internação hospitalar já estava com jeito de criança, e não, como disse sua sogra no dia em que deu-se a concepção, "uma minhoca rosada"... coisas de sogra... Mariazinha, pela felicidade de ser mãe pela primeira vez, nem fazia conta da maldade daquelas palavras.

Ela arrumava as suas coisas, pois dentro de uma hora ou menos viriam lhe buscar. Iria para casa com o seu filho tão amado que por 9 meses carregara em seu ventre. A felicidade parecia que não tinha limites quando ela ouve um estrondo, um barulho seco e indefinido que vinha da grande janela que se agigantava à sua esquerda. De repente uma luz, um vulto...

- Olá, sou Nataliel, anjo que vem da parte de Deus onipotente...
Como conter o susto? O que dizer numa hora daquelas? Um anjo do Senhor que vinha visitar o seu filho! Isso é maravilhoso -ela pensou- o que viria um anjo fazer aqui, neste fim de mundo, nessa cidade esquecida por Deu.. -ops, quase cometi um pecado- ela corrigio o seu pensamento maldito.
- Você, pelo que consta em meus apontamentos é a Mariazinha, estou certo? -inquiriu o anjo.
- Sim, sou eu mesmo! -responde Mariazinha, com os olhos radiantes, imaginando que talvez a tão falada volta do Messias estaria se cumprindo naquele momento. Ela, a mãe do salvador cheio de glórias... Seria isso mesmo?

-Bem, vamos ser rápidos que tenho muitas visitas ainda hoje -diz a figura alada e de uma brancura alva quase transparente.
- Oh meu Deus, estou tão emocionada, o que o traz aqui meu anjo? É alguma profecia que se cumpre?
- Err.. Não minha filha, tenho de fazer esse procedimento para com todas as mães quando do nascimento de seus filhos, inclusive aqui, no outro quarto eu estive com uma mulher que custuma dar trabalho... Ela já está no oitavo filho. Todo o ano eu acabo "esbarrando" com ela..
- Mas do que se trata? Minha mãe nunca falou disso, de visita de anjos, e olha que ela teve 14 filhos.
- Eu lembro, eu lembro... A coisa funciona assim: eu venho lhe trazer uns papéis, meras formalidades, para que você assine e, quando eu partir, você esquecerá que eu estive aqui, foi por isso que sua mãe não lhe contou nada, ela não lembra... E veja se você manera na quantidade de filhos.. bem, esqueça essa parte, vamos ao que interessa...
-Papéis?
- Sim, o primeiro é esse aqui, que você assina atestando que está ciente de que o seu filho já nasce com o sinal do pecado e que ele terá de lutar nessa vida que se inicia para vencer essa marca e tentar salvação junto ao Glorioso-Onipotente-Onisciente-Onipresente-Deus-dos-Exércitos-e-de-Israel, amém!
- O quê, não entendo... pecado, mas...
- [suspiro] Minha filha, vamos abreviar isso que eu tenho mais o que fazer... você tem idéia de quantas crianças nascem no mundo? De quantas visitas eu tenho feito ao longo dos séculos por esse mundão de meu Deus? Então colabore e assine de uma vez... -ele estende o papel amarelado e a caneta de pena - talvez pena de anjo, ela pensa...

- Mas, mas... Eu não vou assinar isso, como eu vou atestar que meu filho possui pecado se o coitadinho recém nasceu, isso não me parece muito lógico...
- [suspiro] Ai minhas sandálias... [suspiro] Isto é somente formalidade, não fará diferença se você assinar ou não, a marca do pecado já está nele, veja se entende, ok! Mas, se você não assinar, lá adiante, quando o Filho do Homem voltar para julgar os justos e os pecadores, Ele procurará na pasta do seu filho e se não tiver a sua assinatura... créu!
-Créu???
-Aff... É por isso que eu não gosto de descer aqui... Essas musiquinhas grudentas que ficam retumbando na nossa cabeça... Esqueça o "créu", está bem? Somente assine. Sua mãe assinou os dos seus 14 filhos, a vida sempre foi assim, não complique o meu trabalho e não fale de injustiça. Por acaso você está questionando os métodos do Todo-Glorioso-Supremo-detentor-da-vida-e-do-bem, amém?
-Não, não estou questionando, mas achei estranho. Não parece fazer muito sentido, mas de maneira nenhuma eu questionaria o Todo-isso-que você-falou.. Eu assino então...

Mariazinha assina, tentando tirar de seu pensamento a sensação de que ali havia uma injustiça tamanha. Isso é pecado, Maria, não pense assim -ela repetia em seus devaneios- vai que o anjo lê pensamentos...
- Eu leio pensamentos sim... é melhor você parar mesmo...
"vou pensar em bolo de chocolate, bolo de chocolate, sai pensamento ruim, sai..."
Após assinar, Mariazinha recebe outro papel, do qual o anjo lhe explica a finalidade:
- Esse aqui é um comprometimento pessoal seu de que, na educação de seu filho, você sempre usará a fé e a palavra divina para explicar o caminho para que ele saiba por onde seguir, sem risco de desviar-se. E o mais importante: você inibirá em seu filho toda e qualquer tentativa de raciocinar e de usar a razão para questionar o mistério da salvação. O cérebro e a razão são os maiores inimigos do plano celestial.

Sem muito entender aquilo que o anjo lhe havia explicado, Mariazinha assina, ainda sentindo um certo desconforto. "bolo de chocolate, bolo de chocolate..."
Após todo aquele ritual angelical, o anjo, de posse dos papeis que trouxera expecialmente para que Mariazinha assinasse, voa pela janela, segue-se um clarão e o esquecimento...
Mariazinha descobre-se pensando no nada, como se tivesse perdido alguma coisa sem saber exatamente o quê.
Ela olha para o seu filho, pensa tentando lembrar no que exatamente estava pensando a um minuto atrás, mas não lembra. O menino resmunga, como querendo acordar. Ela o pega no colo com o extremo amor e carinho que só é possível vindo de uma mãe e sente vontade de chorar.

- Meu filho, que estranho caminho te espera? -ela pensa.
Minutos antes do seu marido e de sua mãe chegarem para levá-la para casa ela, estranhamente, sente uma profunda vontade de comer um bolo de chocolate.

(Recuperando 2): Amor


Texto que escrevi no blog "Observações Niilistas" em 02/05/2008:

Muito se fala na palavra amor e na busca do seu real significado. Incluisive muitos crentes usam como argumento que o amor é algo que não pode ser visto, mas sentido, e ninguém duvida de sua existência, então o mesmo aconteceria com deus... Claro que esse argumento serve também para provar a existência de anjos, fadas, gnomos, enfim... um argumento perfeito partindo de uma mente crente.... ( Se você achar que eu estou sendo irônico, não se espante: eu estou sendo irônico mesmo...)

Procurei várias definições de amor e, por incrível que pareça, a que mais chegou próximo daquilo que eu penso está na wikipédia, site este muito contestado :

"A palavra amor (do latim amor) presta-se a múltiplos significados na língua portuguesa. Pode significar afeição, compaixão, misericórdia, ou ainda, inclinação, atração, apetite, paixão, querer bem, satisfação, conquista, desejo, libido, etc. O conceito mais popular de amor envolve, de modo geral, a formação de um vínculo emocional com alguém, ou com algum objeto que seja capaz de receber este comportamento amoroso e alimentar as estimulações sensoriais e psicológicas necessárias para a sua manutenção e motivação."

Parece simples, não é? Pra mim sempre será simples, mas como é uma palavra cujo significado vai além do simplismo, sempre haverá alguém para contestar essa definição.

O meu modo de ver vai muito além dessa definição do autor desse ensaio na wiki, apesar de eu achá-la muito boa.
Muitos dirão que não, mas a verdade é que você pode amar uma pessoa, seja ela um filho, um familiar ou um(a) pretendente, mas também pode amar o seu carro, o seu celular, a sua profissão, o seu cachorro..

Qual é o objeto maior do seu amor? Seu filho, sua mãe, namorado(a), o carro novo..?
Não, o maior objeto do seu amor é você mesmo. Você ama, acima de tudo, a você propriamente dito, pois o sentimento de afeto, carinho ou amor que você dispensa a outrem é o sentimento da felicidade da presença ou a tristeza da falta desse objeto.
Você não ama o seu conjuge e sim a presença dele(a) e o que isso lhe traz de satisfação e felicidade. É a você que esse amor é dispensado quando está apaixonado, ao seu prazer de estar ao lado da pessoa que lhe faz sentir bem.
Quando você ama o seu filho é porque isso lhe dignifica como pessoa, como pai ou mãe e você está amando literalmente esse sentimento magnífico que a presença de um filho proporciona...
Quando você dá a vida por esse filho é para, inconscientemente, não sentir a dor da perda do mesmo. Quem em sã consciência não escolheria morrer para salvar um filho se a sua morte, de alguma maneira, garantisse que o seu filho continuasse a viver? Você está se amando na figura do seu filho, pois isso lhe faz sentir melhor, mais humano e mais feliz.

Mesmo quando você está apaixonado por alguém que não lhe quer ou , platonicamente, por alguém que nem ao menos desconfia de seus sentimentos é na intenção de se proporcionar o prazer de estar ao lado dessa pessoa, de sonhar com os bons monentos que possam advir dessa possível relação.
Você ama o seu cachorro porque ele lhe proporciona bons momentos de convivência e lhe faz sentir menos solitário. O mesmo serve para o seu carro, seu celular, isto, é claro, levando-se em conta se você diz que ama esses objetos. Eu não me importo muito com o meu celular, mas posso dizer que eu amo o meu computador pois me habituei ao prazer que ele me proporciona, mas se eu conseguir um computador mais potente e eficiente que o meu, troco sem pestanejar...

Um religioso que faz de sua vida um objetivo de ajuda ao próximo está amando a possibilidade de, após a morte, ser recompensado por isso segundo as promessas de sua religião. Ele, na verdade, não ama o próximo como a si mesmo, como Jesus teria falado, mas sim a promessa do mesmo aos que assim agirem.
O amor em si é uma relação de costume e afeição ao objeto que lhe traz o prazer do seu convívio.

A sua mãe sempre será amada por você. Imagine-se sem ela... Imagine a sua dor quando da perda de sua mãe. Assim como você não quer que ela venha a falecer, também não quer sentir a dor dessa perda. São coisas conjuntas, mas o que lhe faz abominar a idéia da perda é exatamente o sentimento de tristeza que você herdará com isso.
Sei que vendo por esse ponto, inicialmente, você poderá discordar, mas reflita e verá que eu tenho razão.

O amor nos é importante pelo sentimento de prazer que ele nos traz e com isso partilhamos esse sentimentos com a pessoa amada.
Claro que teríamos de definir em níveis diferentes o amor familiar do amor entre duas pessoas, do amor ao seu animal de estimação e aos seus objetos pessoais, mas no final todos eles lhe proporcionarão a mesma coisa: o sentimento de satisfação pela existência deles em sua vida.

O amor passa a ser então aquele sentimento de prazer pela existência desse algo, seja pessoa ou objeto, em sua vida, proporcionando-lhe prazer e felicidade e, em contrapartida, há uma troca de sua parte tentando proporcionar a mesmo coisa a esse objeto de sua satisfação, em um sentimento de reciprocidade e reconhecimento.

De que lhe adiantaria gostar de uma pessoa, por exemplo, se você não sentisse prazer e satisfação por estar junto a mesma? Se isso não acontecesse você, na verdade, não gostaria dessa pessoa.

Existem também aqueles que amam a solidão e o prazer que isso traz a sua vida, como a paz, a tranquilidade de não precisar dividir nada, seja material ou sentimental, com outras pessoas.
Todo o ser humano é egoista, no bom sentido da palavra...
Na verdade amamos a nós mesmos e a figura do outro é apenas um complemento para a nossa felicidade.

Mas agora entenda caro apologista cristão: é impossível amar a Deus sobre todas as coisas, pois o amor vem de dentro pra fora. Se você amar a deus é porque está esperando uma troca, ou seja, a vida eterna no paraíso ou algo assim e nunca pelo simples fato do seu pastor ou padre dizer que isso é o certo. Você não está amando a Deus e sim à possibilidade que o mesmo lhe proporciona de um prêmio após a vida. É a maravilhosa troca do amor...

Mas, analisando mais friamente, não é amor a deus e sim interesse pelo medo.
Deixa eu explicar: se eu amar uma mulher e não houver reciprocidade, eu tenho a alternativa de ficar sofrendo ou de ir atrás de um outro objeto feminino de desejo e que talvez me proporcione mais felicidade do que aquela que me rejeita, já o amor a Deus, segundo a ótica cristã, é um caminho de de duas vias: ou ama-se a Deus e se alcança o paraíso, ou se, por qualquer motivo, você não quiser amar a esse deus, ele lhe castigará eternamente no fogo do inferno.

Isto me parece muito com aqueles caras que brigam com a namorada e, para que ela não seja de mais ninguém, assassinam-na covardente.
"Ou serás minha ou de mais ninguém..." ---- coisa mais infantil....