domingo, 9 de maio de 2010

A Morte


O ser humano, apesar de seu curto tempo de existência, comparando-se com os demais seres vivos do planeta, conseguiu se sobrepor sobre toda a dificuldade, vencendo definitivamente a luta pela sobrevivência e alavancando a perpetuação da sua espécie, o que é o grande trunfo que foi conquistado dentro deste planeta minúsculo do sistema solar. Podemos afirmar, sem medo de estar cometendo um equívoco, que o ser humano é o verdadeiro rei dos animais.

Animais de grande porte, quase monstros em tamanho, bem como aqueles furtivos, de enorme velocidade e perspicácia impar na caça não foram páreo para o ser humano que, dentro da sua luta pela sobrevivência, desenvolveu uma capacidade diferencial que o elevou ao status de dominador supremo do planeta: o raciocínio, a capacidade de unir a lógica com a imaginação aguçada para dominar o mundo ao seu redor.

Inúmeras foram as vantagens que, devido ao processo evolutivo, fizeram de nossa espécie a grande vencedora sobre os demais animais, como características físicas, a capacidade de adaptação a quase qualquer ambiente, o regime alimentar que aceita uma variedade enorme de alimentos, entre outras, mas nada foi tão importante aos humanos do que a capacidade de raciocinar, de entender o seu mundo e tirar vantagem desta percepção aguçada.

Devido a esta característica divisora de águas, o ser humano é, até onde sabemos, a única espécie entre os seres vivos a ter consciência da morte inevitável. Da sua própria morte.

A morte, assim como as dúvidas que surgiram em nosso inconsciente acerca dela, faz parte do imaginário popular desde o tempo em que nossos antepassados pintavam os tetos das grutas e cavernas nas longínquas eras passadas. Através da ideia da morte criamos inúmeras conjecturações e, inclusive, obras de arte de valor inestimável, como pinturas, obras literárias, esculturas, músicas e, também, mais recentemente, no cinema e na televisão, os filmes e novelas que emocionam gerações e gerações de admiradores atentos, bem como fazem estes mesmos admiradores “conjecturarem” mais e mais sobre o assunto.

Normalmente tendemos a ficar o mais longe possível da ideia da morte. Não gostamos muito de imaginar que um dia iremos morrer, bem como irão também morrer nossos entes queridos... Como lidar com isso?

A resposta veio através do misticismo, da especulação acerca do desconhecido, da invenção de divindades, ou seja, através daquilo que veio transformar e influenciar de vez o nosso modo de agir, viver e de pensar: a religião.

A religião, os cultos a inúmeras divindades e inclusive o “culto à morte”, veio para tentar preencher o nosso vazio de respostas sobre o significado da morte. Nós humanos, desde o início de nossa aventura neste planeta tivemos uma dificuldade particular em entender a morte como um fim. Não conseguíamos imaginar que aquela parte de nós que não podia ser tocada –o pensamento, as ideias e a capacidade de pensar e raciocinar- fosse se extinguir com a morte. Muitas culturas através do mundo, usando a imaginação, inventaram histórias acerca da continuidade do ente humano através da morte, inclusive alguns povos, como os etruscos e os egípcios antigos, enterravam os seus mortos com objetos pessoais, alimentos e tudo o que iriam precisar para a sua existência no após-morte.

Os sonhos, inclusive quando os nossos antepassados sonhavam com seus entes que já haviam morrido, fortaleceram a ideia de uma continuidade, comumente interpretada como não física, assim como é a característica do nosso pensamento, o qual acreditávamos sobreviver à morte, de alguma forma. Estava inventada com isso a ideia de alma e do espírito. E para onde iríamos após a morte?

Várias religiões, criadas em épocas remotas, deram sua interpretação de vida após a morte, do local para onde iriam os espíritos e inventaram divindades que, direta ou indiretamente, eram responsáveis pela nossa trajetória nesse “outro mundo”, de onde ninguém voltou pra contar como era (ou se realmente existia...) e mesmo assim os responsáveis por estas religiões, sacerdotes, xamãs, curandeiros e etc., já sabiam tudo o que nos aconteceria após na nossa nova morada no além...

Hoje nós entendemos boa parte da “mecânica” do funcionamento do mundo a nossa volta. As estações do ano, o movimento da terra e dos planetas, a composição dos astros, os fenômenos físicos, enfim, não nos espanta saber o formato do planeta, o ciclo das águas, os ventos... pois toda essa informação já nos é rotineira, aprendemos tudo já nos primeiros anos de escola e, muitas vezes, bem antes de entrarmos nela, ainda na tenra infância...

Mas agora coloque-se, por apenas um momento, no lugar de nossos antepassados de épocas longínquas: sem saber tudo o que sabemos, sem entender o funcionamento básico dos fenômenos naturais a sua volta. É natural que os ventos, a chuva, o fogo, vulcões e demais fenômenos que se manifestavam a sua volta seriam interpretados como obras de algum ente desconhecido, inatingível, mas com muito poder. Como estas entidades, que na maioria das vezes seriam interpretadas como deuses, não podíamos vê-las, não sabíamos onde encontra-las e observando o também inatingível e misterioso céu (por alguns antigos chamados de “firmamento”..), por ser inalcançável, foram lá colocadas, estrategicamente, onde não poderiam ser questionadas. Estas entidades estavam “protegidas” pela impossibilidade da época de ser provada sua existência ou inexistência pelos mais céticos.

Uma grande quantidade das religiões antigas tinha o culto ao sol como sendo sua principal deidade. O sol, que através dele era sabido à época, sem nenhuma necessidade de conhecimento científico, ser a principal fonte de vida do planeta. Ao juntar o sol com a morte, muitas religiões impuseram suas crenças, bem como o status dos sacerdotes e das autoridades, de uma maneira implacável e bizarra, fazendo com que aqueles filmes de terror de quinta categoria que costumamos ver hoje nos cinemas, parecessem meros contos de fadas inocentes.

Na costa norte do Peru, na América do Sul, por exemplo, uma poderosa civilização chamada Moche, entre 100 e 700dc fazia sacrifícios humanos aos astros, principalmente ao sol e à lua, com características perversas e inumanas, se é que podemos usar este último termo. Pessoas, entre elas mulheres, idosos e crianças, eram estripados, tinham seus membros e cabeças arrancadas e oferecidas aos deuses. E depois eles reproduziam em estatuas e paredes as cenas sangrentas que fariam corar até o Jason Voorhees, personagem fictício da série de filmes americanos “Sexta Feira 13”, que todos conhecemos.

Não muito longe dos Moches, no México pré-colombiano, os Astecas, que tinham o sol como sua principal divindade, também faziam sacrifícios horrendos e que depois eram eternizados através de sua arte. Historiadores afirmam que em certa ocasião foram sacrificados cerca de quatro mil prisioneiros em apenas quatro dias, que tiveram suas cabeças arrancadas e empilhadas e assim como o coração, pois acreditavam que se não houvesse a oferenda do sangue humano ao sol, o mecanismo do mundo deixaria de existir. Histórias como estas não são exceções na história das religiões, muito pelo contrário.

Agora pense você: quem seria doido o suficiente para questionar a religião e a autoridade de quem praticava tais sacrifícios sanguinários? O povo teve a aceitação pelo medo, tal qual acontece hoje com as grandes religiões monoteístas da atualidade, onde os fieis aceitam sem questionar o deus de sua religião pelo medo de não alcançar as benesses necessárias, nesta e na vida que acreditam ter após a morte.

Foi a fortificação da ideia antiga de que os deuses são implacáveis e cobram caro a obediência dos mortais que hoje vemos pessoas embebidas na intorpecência do não questionamento de suas crenças. Lembre-se que o deus judaico cristão também cobrava sacrifícios de seus súditos, não necessariamente humanos, mas tão sangrentos como parece ser a preferência dos deuses...

O culto ao sol, praticado por inúmeras religiões antigas, também usou a morte - esta ideia temerosa e misteriosa – para fortificar a esperança de seus súditos (e obter a obediência necessária...). Muitos cultos afirmavam que o sol teria vencido a morte e voltava sempre para atestar sua grandeza. Estas características dos “deuses solares” veio acrescentar muitas das características do ícone do cristianismo, a principal religião da atualidade: Jesus Cristo.

Jesus, assim como seus “primos” de outras religiões, do qual herdou uma quantidade significativa de particularidades, segundo a lenda bíblica, vencera a morte e voltara à vida, com o intuito de, sabe-se lá quando, retornar a terra para instituir o reino de glórias de Javé, seu pai, e permitir que uma quantidade de súditos obedientes e sem poder de questionamento passem a viver eternamente ao lado deles. É a religião usando a morte como uma figura derrotada, nada melhor para convencer seus seguidores à obediência, ao não questionamento e à colaboração cega, permitindo com isto a sua continuidade e o seu alcance maior no inconsciente do povo, bem como rentáveis quantias monetárias...

Todos sabem que sou ateu, não acredito em nenhum deus, assim como também não creio que exista uma continuidade do meu eu consciente após a morte, seja lá sob qual forma ou aspecto. Me é estranha a ideia de que as bilhões de pessoas que já passaram por nosso planeta continuem existindo em algum lugar. Isto vai de encontro com a racionalidade acerca do mundo e dos seres vivos que construí através do conhecimento, da lógica e da observância, mas têm quem acredite, e não são poucos. É confortante para as pessoas acreditar que após a morte elas continuarão vivas de alguma maneira, podendo talvez rever pessoas que muito lhes foram importantes e que agora não mais estão entre eles e a oportunidade de uma continuidade da vida, onde poderão, quem sabe, desfazer os erros passados, melhorar de alguma forma e tendo a ajuda de entidades superiores que lhes confortarão e ajudarão nessa tarefa. Realmente não creio nesse tipo de coisa e fico até, como direi..? Perplexo, talvez esta seja a palavra a ser usada, ao ver que ainda continuamos a cultuar os mesmos deuses de nossos antepassados antigos, vestidos com uma roupagem mais moderna por algumas religiões, mas que na verdade são os mesmos deuses que recebiam sacrifícios sangrentos em épocas remotas. A única diferença é que, devido aos direitos humanos conquistados pela maioria das nações do mundo, não mais podemos sacrificar seres humanos para aplacar a ira desses deuses, mas, em contrapartida, costumamos sacrificar a nossa individualidade e nossa liberdade em favor desses supostos deuses (bem como, muitas vezes, o nosso bolso...)

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Com deus não se brinca...


A internet virou uma poderosa ferramenta de informação. Estamos vivendo uma era ímpar na história da humanidade onde as opiniões, fatos e idéias são disseminados como pólvora ao contato com o fogo. E isto é um dado extremamente positivo, apesar de que, em alguns casos, um tanto perigoso.

Nesses poucos anos de inclusão digital, onde o povo entrou em contato com esta nova ferramenta chamada internet, tenho visto muita besteira. Muitos fatos fictícios são travestidos de verdade e, sem nenhum aprofundamento e investigação quanto à origem dos mesmos, são tratados como verídicos sem pudor algum. As pessoas lêem alguma besteira e saem repassando-a como verdade, como se o simples fato de que alguém o escreveu em algum site ou blog já fosse atestado de confiança.

Muitas lendas já se criaram nesse curto espaço de tempo, e muitas outras irão florescer...
O maior foco dessas lendas e distorções da verdade parte das “alas crédulas” da sociedade cristã. O crente usual, para fins do que aqui escrevo, é aquele que possui a necessidade extrema de acreditar em algo que corrobore com suas crenças e seus ansêios, mesmo que na verdade, nem ele saiba exatamente quais ansêios sejam estes. O crédulo, ou crente comum, costuma aceitar de bom grado tudo aquilo que é dito ou escrito, desde que não vá de encontro com seus devaneios místicos. Ele acredita em um mundo rodeado de mistérios e conspirações cósmicas, incompreensíveis aos meros mortais, trabalhando, invisíveis, com uma finalidade que nem ele sabe exatamente qual. Quando algum fato é provado cientificamente, com experimentos e muito trabalho por parte dos profissionais da pesquisa, ele acha que é besteira, mas quando algum autor, comumente desconhecido, escreve alguma besteira com teor fantasioso, ele adora e repete aquilo aos quatro ventos, sem ao menos verificar de onde vem tal informação.

No meio desses absurdos místicos do mundo virtual encontra-se o celebre “Com deus não se brinca”. Muitos de vocês já devem ter recebido via e-mail uma apresentação do power point onde algum crente eufórico criou uma analogia muito pobre de conteúdo afirmando que a morte, muitas vezes trágica, de algumas personalidades conhecidas do público, estaria associada ao fato de, em algum momento de suas vidas, terem zombado ou feito pouco caso da figura mitológica do deus cristão...

Marilym Monroe, Cazuza, Bon Scott, Lennon, entre outros, são penalizados com a morte por terem, através de uma música ou frase, afetado os brios do deus bíblico. Ficamos a imaginar que os cristãos não morrem, partindo dessa premissa, ou, se morrem, é uma morte tranquila, ao som de harpas e sem nenhuma dor...


A apresentação começa com a celebre frase de John Lennon, integrante dos Beatles, onde o mesmo afirma que, naquele momento, eram (os Beatles) mais populares do que Jesus Cristo. O autor da apresentação coloca ainda: ". Lennon, depois de ter dito que os Beatles estavam mais famosos que Jesus Cristo, recebeu cinco tiros de seu próprio fã.” – Vejam como as coisas são colocadas: ao mais desavisados, que desconhecem os fatos, dá-se a entender que Lennon proferiou a frase, deu as costas e recebeu os cinco tiros que causaram-lhe a morte. E isto, com certeza foi proposital por parte de quem escreveu. Dá um ar mais verídico à idéia que quer vender.

A verdade é que a frase foi dita por Lennon em 1966 e, em 1980, 14 anos após, é que o famoso Beatle foi assassinado por Mark David Chapman, seu algoz. Notem que o propagantista cristão, usualmente, gosta de dar uma dramaticidade as suas afirmações, suprimindo algumas informações na tentativa de ser mais “profético” naquilo que se propõe contar. Este é um jogo sujo que já faz parte dos métodos religiosos.

O que não costuma-se colocar é o lado inverso da coisa: poucos, principalmente religiosos, lembram que Martin Luther King, pastor batista americano e prêmio Nobel da Paz de 1968 e por quem tenho uma admiração especial como grande lider pela luta dos direitos civis americanos que era, foi assassinado também por arma de fogo, tal qual Lennon. O pastor Antônio Francisco Ribeiro Silva também foi assassinado a tiros em Açailândia/MA, em 2007, quando chegava em casa, assim como Lennon. E os exemplos se multiplicam – o pastor Irianto Kongkoli (Indonésia/2006), O pastor pentecostal Francisco Cruz Velázque(Porto Rico/2009), Fred Winters(EUA/2009) e os exemplos são inúmeros... Todos assassinados.

Porque uma pessoa famosa como Lennon tem sua morte atribuída a uma frase proferida por ele 14 anos antes e não usa-se os exemplos que saem de dentro do próprio cristianismo? Porque o deus cristão puniria um astro do rock, com 14 anos de atraso, mas não protegeu os vários pastores, padres e religiosos que dedicaram-se a pregar a palavra cristã pelo mundo afora? Não seria meio incoerente um deus que se zanga a ponto de permitir que alguém que proferiu palavras que lhe desagradam seja morto mas não zela por seus súditos, muitos deles considerados “representantes” deste mesmo deus aqui no “mundo dos mortais”?

O próximo slide da apresentação faz alusão ao Presidente brasileiro eleito indiretamente em 1985, Tancredo Neves, que teria afirmado que nem deus o tiraria da Presidência da República, vindo a falecer antes de ter a chance de tomar posse no cargo.

Em primeiro lugar tenho de dizer que procurei cansativamente saber se esta frase foi realmente proferida por Tancredo, mas não achei uma resposta razoável e definitiva pro assunto. Pode ser verdade, como pode ser mais uma lenda dessas que abundam no mundinho religioso, mas vamos tratá-la como sendo verídica.

Bem, um político diz uma frase com este contexto e então o deus cristão decide simplesmente que ele deve morrer. Puxa, que deus bondoso esse dos cristãos, não é mesmo? Preferiu que o Brasil ficasse nas mãos de José Sarney, o Vice-Presidente que acabou por assumir, para satisfazer o seu capricho de deus ofendido? Kennedy era católico e teve o fim trágico que todos conhecemos...


A apresentação segue com Leonel Brizola, várias vezes candidato á Presidência do Brasil, onde o autor (com essas palavras) afirma: “No ano de 1990, quando houve uma outra campanha presidencial, disse que aceitava até o apoio do demônio para se tornar presidente. A campanha, quando acabou, apontou Collor como presidente e não mostrou Brizola nem em segundo lugar.

Confesso que procurei, primeiro na memória, depois nos livros de história que guardo na estante e, por fim, pesquisando na internet e não encontrei uma campanha presidencial no ano de 1990 aqui no Brasil...

É óbvio que o autor quis fazer referência à eleição presidencial de 1989, que elegeu Collor como Presidente da República, ficando Lula em 2º lugar, disputando o segundo turno com Collor e Brizola em 3º, tirado da disputa pelo 2º turno por Lula com uma diferença ínfima de menos de 1% dos votos válidos, alavancando então o 3º colocado à disputa ao Governo do Rio de Janeiro do ano seguinte (agora sim estamos falando de 1990), onde elegeu-se pela segunda vez como Governador.

Note que o discurso cristão é sempre o mesmo: leia, acredite e não consteste. Por conta dessa premissa os divulgadores cristãos nem se dão ao trabalho de pesquisar e informar corretamente acerca daquilo que se propõem a dissertar, sabendo que o cristão comum, aquele que simplesmente lê e acredita, não irá trás da veracidade dos fatos.

Se fossemos seguir a lógica da “aritmética cristã”, no caso de Brizola e a eleição de 1989, onde deus pune um candidato por uma simples frase, legando-lhe a terceira colocação numa eleição de proporção continental em termos de votos como costumam ser as eleições para presidente do nosso país, o então candidato Manoel Horta, na mesma eleição, candidato pelo Partido Democrata CRISTÃO do Brasil não teria ficado em penúltimo lugar com míseros 0,12% dos votos válidos, menos 90.000 votos e sim teria ganhado as eleições no primeiro turno.


A próxima vítima da sanha cristã, representada aqui pela apresentação de nosso anônimo “powerpointista” é Cazuza. Cazuza, como todos devem saber, foi um ícone do rock brasileiro dos anos 80, poeta, irreverente e polêmico e que veio a falecer em 1990 devido a compilicações pelo vírus HIV, do qual era portador. Na apresentação o autor faz alusão à uma baforada de maconha que o cantor teria dado e dito: “
Deus, essa é para você!”, relacionando isto à morte de Cazuza.

Vejam só: entende-se que Cazuza fumou “unzinho”, deu uma baforada, ofertou a mesma a Deus e veio a ser punido com uma morte trágica devido á AIDS. “Santa” ingenuidade, pra não dizer “tamanha” forçação de barra. Cazuza, quando fez tal ato e proferiu tal frase já estava infectado com o vírus HIV e muito próximo da morte. Isto aconteceu durante as gravações do disco “O Tempo Não Pára” (entre 1988 e 1989) e a doença do qual era portador foi adquirida por volta de 1985.

A distorção dos fatos é algo repulsivo no argumento de alguns cristãos.
E agora eu pergunto: porque muitos cristãos morrem devido ao vírus da AIDS? Já que deus pune uma frase que eu nem julgo ofensiva, porque ele não protege os cristãos do mesmo vírus?

A próxima “erege”, da aludida apresentação que narro aqui é Marilyn Monroe. Ela teria sido visitada por um pastor, com a intenção de evangelizá-la e teria dado a seguinte resposta: “Não preciso do seu Jesus.” Uma semana depois foi encontrada morta em seu apartamento. Que deus que gosta de matar esse Javé, não é mesmo.

Esta frase, proferida por Marilyn, é muito duvidosa. Assim como algumas já citadas acima, não encontrei fonte confiável para atestar sua veracidade, mas vamos fazer de conta que seja verdadeira(outra vez).


Marilyn, segundo o contexto, não teria aceitado Jesus, por isso morreu em circunstâncias até hoje não explicadas. Mas, e aqueles que aceitam Jesus? Porque morrem, muitas vezes com maior sofrimento e humilhação. Vamos começar pelo próprio Jesus que, segundo a lenda bíblica, teria sofrido muito antes de morrer... Seguindo a lógica do autor da apresentação, aqueles que aceitam Jesus não deveriam sequer morrer, ainda mais sofregamente como muitos cristãos morrer por este mundo afora.
Vou mostra alguns poucos exemplos, pra não me estender muito, já que a lista é enorme: Bernard Lichtenberg, beato católico morto em 1942 na Alemanha, em um campo de concentração, São Denis, mártir católico que teve sua cabeça cortada, aproximadamente no ano de 250, Manuel Barbal Cosan, novisso católico morto por fuzilamento em 1837, Paulo Miki, sacerdote japones torturado e cruxificado em 1547, Abo de Tifis, ortodoxo cristão martirizado e morto em 786, na Georgia Oriental, Luiz Antonio Rodrigues da Luz, pastor da Assembléia de Deus, aqui do Brasil, morto no trágico acidente em um avião da empresa TAM, em 2007... A lista é interminável, faça a sua pesquisa. Aqueles que, diferentemente de Marilyn, aceitam Jesus também morrem, e, muitas vezes, com maior grau de sofrimento...

O próximo da lista dos desafortunados desafiadores do deus cristão é Bon Scott, vocalista do grupo de rock AC/DC, que em 1979 cantava "Don´t stop me, I´m going down all the way, wow the highway to hell" (Não me impeça... Vou seguir o caminho até o fim, na auto-estrada para o inferno) e em 1980 morreu, ao que parece, pois não ficou bem explicada ainda as circunstâncias de sua morte, sufocado com o próprio vômito após coma alcóolico. E o autor da apresentação afirma que foi castigo...


Vejamos o caso de Ozzy Osborne: astro inglês conhecido mundialmente por cantar temáticas envolvendo satanismo, trevas, inferno e afins. Deus esqueceu de castigá-lo também, tanto que hoje é um multimilionário do rock, com a vida ganha e muito prestígio dentro da musica pop internacional. A lógica cristã, neste caso (e em muitos outros) não se aplicou...


Antônio Marcos, cantor brasileiro de muito sucesso nos anos 70 e que cantou várias músicas de teor cristão, como “O Homem de Nazareth”(1973) um de seus maiores sucessos, morreu em 1992 em decorrência do alcoolismo, e isto não costuma ser lembrado pelos defensores do deus vingativo cristão.


A próxima é uma pérola: O Titanic. Navio construído na Irlanda e que, em sua viagem inaugural em 1912, chocou-se com um iceberg, transformando-se num dos maiores desastres navais que se têm conhecimento. O autor afirma que o capitão do Titanic, antes da partida, teria dito que nem deus podia afundar aquele navio e, por castigo divino, deus decidiu sacrificar 1523 vidas humanas para vingar-se do capitão que teria proferido tal frase. Entre essas vítimas da vingança divina tinhamos crianças, idosos, jovem e muitos, mas muitos cristãos....


A verdade é que não existe na história oficial algo que corrobore com a afirmativa de que o capitão do navio, Edward J. Smith, tenha realmente dito tal frase, ficando isto como mais umas das lendas que, repetidas inúmeras vezes, tornam-se verdades inconstestáveis para o povo que a ouve.


Se o caso acima é uma pérola, o próximo slide pode ser considerado um diamante do tamanho do iciberg onde o Titanic bateu. O nosso autor conta uma historinha já muito conhecida no mundo virtual que vou reproduzir aqui, da mesma maneira que aparece na apresentação do power point que estou a analisar (com os eventuais erros de gramática e concordância que o mesmo possui):


"Em Campinas, uma turma de amigos já embriagados, foram buscar a última pessoa ir para balada, parou em frente da casa do jovem chamou, e junto com a moça veio a mãe. A mãe com medo vendo todos embriagados e sua filha entrando naquele carro lotado, pegou na mão da filha que já estava dentro do carro e disse: "FILHA VAI COM DEUS QUE ELE LHE PROTEJA", a filha pra tirar uma onda com a mãe disse: "SÓ SE ELE FOR NO PORTA-MALAS, POIS AQUI JÁ ESTÁ LOTADO". Algumas horas depois a notícia aos familiares dos jovens, sofreram um acidente, morreram todos, o carro ficou irreconhecível, mas o porta malas ficou intacto. A policia técnica disse que pela violência do acidente seria impossível o porta-malas ficar intacto, quando o policial abriu o porta-malas, lá estava uma bandeja com 18 ovos sem nenhum arranhão, e todos nos lugares corretos da bandeja."


Essa é de doer... A garotada vai pra balada com uma bandeja de ovos no porta malas, tá bom...


A verdade é que não há verdade nenhuma nessa historia pra cristão dormir. Este caso nunca aconteceu, não foi registrado em nenhum jornal , publicação ou site confiável. É mais uma das milhares de estorinhas sem pé e nem cabeça inventada s por religiosos para emocionar o público crédulo. Faça uma pesquisa na internet e você verá que o fato acima narrado só é encontrado em sites e blogs de confiabilidade duvidosa, em sua maioria de conteúdo cristão. E o povo acredita e sai repetindo como se fosse verdade...

O que acontece meus amigos é que pessoas morrem, nas mais variadas circunstâncias, independente da religião, credo ou filosofia de vida que acreditam. Não existe um deus que pune as pessoas por terem dito uma frase infeliz, e se existe, este deus não merece ser idolatrado, pois neste caso ele demonstra um caráter vingativo, ciumento e maldoso, sendo completamente indigno de nosso respeito e admiração.

Tome cuidado com aquilo que houve, vê ou lê... Uma análise mais aprofundada sobre certos fatos fazem com que você não seja enganado. E pessoas enganadas é o que mais encontramos por este mundo afora, não seja mais um...

domingo, 13 de dezembro de 2009

Natal


Ontem, sábado, fui ao centro da cidade com a finalidade de comprar um presente para o amigo secreto. Sim, nesta época o que mais temos são gastos. Estamos em pleno verão mas Porto Alegre, ontem, tinha um aspecto invernal: o céu estava cinza, muito vento e uma garoa constante que, eventualmente, transformava-se em uma pancada torrencial de chuva. Mesmo assim, sendo um sábado atípico para a época do ano, muito propício para que as pessoas fiquem em suas casas, no conforto do lar e longe das do vento e da chuva, o centro da cidade estava muito movimentado. Pessoas indo e vindo, com pressa e com muitas sacolas. Lojas cheias, segurança redobrada, vitrines decoradas e muitos atendentes felizes na tentativa de satisfazer o melhor possível ao público porque, sendo contratados temporariamente, possuem a esperença da efetividade e de um emprego fixo.

Estamos no período natalino e, exatamente por causa disso, as pessoas tomam um rumo mais apressado em seu cotidiano. Todos querem comprar os presentes que irão ofertar aos seus amigos e familiares, as decorações, os enfeites e a árvore e ainda preocupam-se com a ceia, ou seja, o jantar do dia 24 de dezembro, onde comumente o peru é prato principal, acompanhado de muitas iguarías culinárias, as quais não estamos acostumados a comer durante o resto do ano. E muita, muita bebida alcoólica, infelizmente. É a época que muitos caracterizam como mágica, onde as famílias costumam se unir para celebrar o suposto nascimento de cristo. É um tempo de reencontros.


Muitos me perguntam o que o natal significa pra mim, já que sou ateu e o natal é uma festa estritamente cristã. Aqui há um porém muito importante: o natal não é uma festividade “estritamente” cristã. Quem conhece um mínimo de história sabe que os cristãos apenas incorporaram a data, de origens pré cristãs, ao seu calendário, na tentativa de aproximarem-se dos povos “pagãos” recém convertidos que festejavam já o solstício de inverno, que é a verdadeira origem das comemorações do 25 de dezembro. A data tem vários significados, dependendo do local e das crenças do povo. Os romanos comemoravam o nascimento do deus sol, com muita festa, orgias e bebidas. O sol é o grande “aniversariante” da data. Os cristãos só juntaram o útil ao agradável.

Mas, como eu ia dizendo, muitos me perguntam, inclusive, se não é hipocrisia da minha parte, que eu compre presentes para os amigos e filhos e participe da ceia com a família. Não vejo as coisas desta meneira. Vejo o natal como uma época de festividades, conjuntamente com o ano novo, onde as pessoas festejam, como na pré-história, o final de um ciclo e o início de outro, só que com uma diferença significativa: o 13º salário...

Eu não festejo o nascimento de nenhum deus, ou semi-deus, e sim entro no clima dos que convivem comigo, onde vejo a oportunidade de reencontrar amigos, confraternizar com familiares e ver que o ano que está acabando foi bom e que isto vale uma comemoração, ou, se o ano não foi tão bom assim, planejar o ano novo que irá começar. Isto acaba sendo algo inconsciente.

Na verdade o natal e o ano novo, pra mim, são dias iguais aos outros, nada muda, exceto o fato de que o governo resolveu premiar minha conta bancária com um acréscimo monetário, o 13º salário, e me possibilitou tirar uns dias de folga da rotina extressante do trabalho e, juntando isso ao fato de eu conviver em uma sociedade de maioria cristã, comemorar o natal a minha maneira e faço questão que respeitem a minha descrença, mas para isso tenho que respeitar a crença daqueles que vivem, trabalham e fazem parte do meu convívio durante o ano.


Se for para comemorar algo, que seja algo importante, como os povos da antiguidade faziam, adorando o sol, mas não como um deus e sim como um astro de extrema importância para o planeta, pois sem ele não haveria vida na terra. Então, talvez, no dia 25 de dezembro eu faça um brinde ao sol, que tanta importância tem para o mundo em que vivemos e, mesmo assim, não nos cobra nada, não nos obriga a seguir nenhuma lei, não nos castiga por atos cometidos. Ele apenas está lá, cumprindo o seu dever enquanto pode, sem ao menos saber de sua vital importância para toda a vida do planeta.

sábado, 28 de novembro de 2009

O Ateu




Muitos tentam definir o que realmente é ser um ateu . Várias são as colocações que tenho lido e ouvido para adjetivar aquele que não crê em deus/deuses. Como muitas dessas definições partem de religiosos e, exatamente por causa disso, sofrem o vício da parte quem o define, pois um ateu, na maioria das vezes, já foi um religioso e sabe o que se passa na cabeça de quem acredita em uma deidade, já o religioso não sabe o que é ser um ateu, pois nunca experimentou a sensação de ser livre de crendices e pensamentos religiosos. Além do mais, as definições feitas por parte dos religiosos costumam ser caricatas e a distanciarem-se da verdade, seja por desconhecimento de causa, devido ao que escrevi acima, ou seja por maldade de querer descaracterizar um pensamento do qual não compactuam e também não entendem.


Como todos sabem, e isto não escondo de ninguém, eu sou ateu e, por mais incrível que isto possa parecer, pra mim também é difícil definir com exatidão o que é ser ateu. Não trata-se de dar a definição de ateísmo e, a partir dela, levando-se o pensamento na correnteza da lógica que costuma nos enganar e sim definir o que é e como é a pessoa que se diz adepta do ateísmo, o ateu em questão. Muitos religiosos, aproveitando-se do fato de que o prefixo “a” ter sentido de negação, tentam caracterizar o ateu como sendo aquele que nega o deus que o caracterizador acredita, como quem diz “eu nego o teu deus, mas creio em outros”. Isto é pura besteira e costuma ser um artifício, malicioso diga-se de passagem, usado por quem não aceita que alguém não creia em algo e então julgam que o ateu, ao negar deus, esteja negando o seu deus particular. Ateu não crê em nenhuma forma de divindade. Isto é o básico.


Também, colocando neste sentido torto, os cristãos, em particular, gostam de afirmar que o ateu, por não acreditar em deus (e este deus, para eles é exclusivamente o deus cristão), é taxado de satanista, adorador do demônio, luciferiano e coisas do gênero. Não sei se é para rir ou chorar de tamanha ingenuidade, pois, se um ateu não crê em deuses, incluindo ai o deus judáico cristão, é óbvio que não crê também em demônios e similares, já que, como teriam estes sido criados por este deus, que, segundo a ótica bíblica foi o criador de tudo o que existe. É mais simples do que aritmética básica.

Acerca do fato de eu não poder definir com exatidão o que é ser ateu, eu explico... O que ocorre, na verdade, é que o ateu é uma pessoa igual a qualquer outra, que possua ou não a necessiadade de crer em algo sobrenatural e que não possa ser provado. O ateu pensa, se relaciona, vive, convive, ri e chora, ama e odeia como qualquer outra. A única diferença é que não acredita em divindades, o que passa a confrontar-se com a idéia generalizada na maioria da população de que é obrigatório que exista um deus, ou vários, controlando o mundo que nos cerca e a nossa vida particular, ou um deus, como algumas correntes de pensamento aludem, que nem saberia que é realmente um deus, apenas seria uma força que move, aleatoreamente o universo.


Se eu me propor aqui a definir o que é ser uma teu, como tensiono fazer, eu terei de me basear somente em mim, naquilo que penso e da maneira como ajo no meu cotidiano e a partir da minha compeensão de mundo e de vida. Por isso, o que colocarei aqui, não é nenhuma regra ou exemplo a ser seguido e sim a idéia que, através do que sou e dos ateus que conheço, representam o meu ponto de vista sobre o assunto. E escrevo isto mesmo sabendo que várias pessoas estão tentando se agrupar e impor regras e posturas para quem, tão simplesmente e nada mais do que isso, não acreditam em deus.


Uma das afirmações mais indevidas que tenho visto e ouvido é de que um ateu é uma pessoa potencialmente propensa ao mal por não possuir “em seu coração” a idéia “divina” e limitadora de uma corrente religiosa. Esta afirmação, além de inverídica, é de uma infantilidade fora do comum. Não há prova nenhuma que relacione o caráter de uma pessoa, para o bem ou para o mal, em virtude de ser esta pessoa adepta ou não de uma corrente ou pensamento religioso, além do mais teriamos de entrar em uma discussão filosófica interminável acerca do que seria o bem e o que seria o mal.


Vou usar, para início de conversa, três exemplos: Charles Chaplin, Dr. Dráuzio Varella e Paulo Autran. Três pessoas conhecidas, sendo o primeiro um grande vendedor de poesia em forma de cinema, reconhecido pela sua sensibilidade no mundo inteiro; o segundo é um médico e escritor conceituado e o terceiro, não menos conceituado aqui no Brasil, um dos maiores atores de teatro e televisão que o nosso país já conheceu. Alguém de sã conciência diria que estes três exemplos que eu citei teriam uma “propensão para o mal”? Pois, para quem acaso não souber, estas três pessoas ilustres sempre assumiram-se ateus. Agora vamos pegar mais três exemplos: Stalin, Mao Tse e Fidel. Se juntarmos todas as mortes que tiveram a mão, direta ou indireta, desses três ditadores, sabidamente ateus também, daria para encher um oceano de sangue. E agora? Que conclusão tiramos disso tudo?


A conclusão é óbvia: a convicção religiosa (ou a falta dela) não é fundamental para definir o caráter e a postura moral de uma pessoa. Eu poderia, indo ao outro extremo, citar exemplos de pessoas religiosas de conhecida boa índole e também assassinos brutais e ditadores ímpios confessadamente religiosos. Não é a crença em um deus que deixará uma pessoa imune ao que conhecemos como maldade. Alguns, principalmente cristãos, alegam que sem a observância da lei do seu deus é impossível para alguém ter uma postura reta e uma conduta dentro dos princípios considerados normais e agindo conforme a abservância da lei, mas isto é outra ilusão de raciocínio, pois temos leis que regem a nossa sociedade e é através dela que uma pessoa deve espelhar-se para escolher as atitudes a serem tomadas no seu dia-a-dia, pois, do contrário, ao cometer algum ato que vá de encontro aos preceitos que estas leis regem, a pessoa estará sujeitando-se à punição que advém delas, assim como o cristão que, ao infligir a lei do deus que acredita, está ciente que, de acordo com sua crença, poderá ser castigado por seu deus. (E ele castiga mesmo, vide a bíblia)


Outra afirmação que é comum dentro do pensamento religioso é a de que um ateu é uma pessoa infeliz, sem esperança e incapaz de amar. Mais uma vez o raciocínio limitado, pelo desconhecimento de causa já citado, erra groceiramente ao avaliar o que desconhece. Sobre o amor, aqui mesmo neste blog, já escrevi e coloquei a minha opinião, não sendo necessário repetir. Sobre infelicidade, mais uma vez teriamos de abrir uma discussão filosófica sobre o que, na verdade, este termo significa, individualmente ou dentro de um contexto mais amplo. Eu me considero feliz na maior parte do tempo. Infeliz, eventualmente, quando algo dá errado ou alguma preocupação me assola, não mais do que isso, que, resumindo, é o que sentem todas as pessoas, ateu ou religioso. A felicidade plena não existe, pois se estamos plenamente felizes, estaremos tristes pelo tédio de não termos nada mais para conquistar. A felicidade plena, se existisse, seria algo tão em desacordo com a filosofia humana que nos pareceria, a grossos olhos, que o mundo a nossa volta já não teria mais sentido. Pense nisso.

Algumas religiões alegam que a felicidade completa virá, algum dia, por conta do seu deus ou deuses, mas isto é apenas uma suposição, muitas vezes não analisada friamente por parte de quem acredita, ou seja, esperança pura e que não pode ser provada. Esperança esta que os religios alegam que nós ateus não possuímos. Eu, particularmente, prefiro ter esperanças em coisas que sei serem concretas. A esperança em uma ilusão não me convence e nem me atrai, pois aprendi a ser prático nas coisas que me são importantes. Os cristãos e os judeus têm a esperança de viverem eternamente ao lado de Javé (como se viver eternamente possa ser uma benção); os islâmicos matam e morrem na esperança de que, ao chegarem ao céu, gozarão a eternidade entre as pernas de 72 virgens que, serviçalmente, lhes aguardam submissas; os espíritas têm a esperança de ver cessar o ritmo perturbador de reencarnações a que estão escravizados e tornarem-se espiritos de luz, seja lá o que isto seja. E o ateu, que esperanças possui, perguntas os crédulos de plantão?


O ateu tem a esperança, entre outras coisas, de ver o ser humano viver em prol da humanidade e não perdido entre ilusões celestiais, angelicais e deístas. O ateu tem as esperanças normais que qualquer pessoa possui em sua vida, com exceção de que nestas esperanças não há lugar para o improvável. Parece pouco, mas ganha-se muito em encarar a realidade de frente, de uma vez por todas, ao invés de perdermos boa parte de nossa vida entre devaneios e elucubações místicas, aguardando a ajuda do etéreo para resolver os nossos problemas que, tão simplesmente, necessitam apenas de nós para serem resolvidos.

Outra afirmação que tem se firmado, principalmente com o advento da internet e com a facilidade que ela propicia em aglutinar grupos e opiniões, é a de que os ateus julgam-se superiores aos teístas, sob o ponto de vista intelectual e no que tange ao raciocínio. Infelizmente é verdade que muitos ateus têm caido nesta cilada, mas não é uma opinião unânime entre aqueles que não acreditam, felizmente. Isto também é uma besteira, pois não podemos medir a capacidade intelectual e de raciocínio de uma pessoa levando-se em conta a sua fé ou a falta dela. O caráter do “acreditar” parece que se firmou no gene social, pela repetição, pela afirmação da existência de um mundo sobrenatural desde que somos crianças e isto acaba por fixar-se no inconsciente das pessoas e torna difífil, em alguns casos, admitir que estamos sozinhos no universo, sem deuses a olhar por nós, mas isto não inibe a capidade de raciocínio lógico, mesmo que a crença em divindades, ao meu modo de ver, vá de encontro a esta capacidade lógica de raciocínio.


Temos inúmeros teístas intelectuais, de ontem e de hoje, que desmentem a máxima de que os ateus são mais inteligentes do que os religiosos, e acho que isto já é prova suficiente. Talvez esse pensamento falacioso tenha nascido da observação de que muitas pessoas, com um bom nível de conhecimento histórico e/ou científico, compõem uma grande parte dos ateus declarados e, em contrapartida, aquela parcela das menos esclarecidas, culturalmente falando, costumam, e isto não é regra também, compor o conjunto de pessoas ligadas às igrejas mais fundamentalistas, e isto em termos de cristianismo. Mas não é nada de que possamos tirar uma conclusão apressada e distorcida dos fatos.

Há também aquela clássica afirmativa, e que mais uma vez, por ser apressada, não corresponde à verdade, de que os ateus só assim declaram-se por desconhecer a palavra bíblica e de não saber que a mesma é a fonte de toda a salvação -e esta é uma afirmação particularmente parte dos adeptos do cristianismo. Existe nessas palavras um enorme, e bota enorme, desconhecimento acerca do que elas afirmam. Via de regra, a maioria dos ateus conhecem tanto ou até mais acerca da bíblia do que os próprios cristãos que a tem como fonte de inspiração. Um ateu costuma conhecer todos os aspectos que envolvem este controvertido livro, se é que podemos chamar a bíblia de livro, mas vá lá. Conhecer a bíblia não é somente decorar os versículos e sair a citá-los como quem repete um mantra, como é costume de muitos cristão. Conhecer a bíblia é entendê-la num contexto de espaço e de tempo, compreender os objetivos e as finalidades que determinaram a composição de cada uma de suas estórias e saber de suas origens, das lendas de outros povos que inspiraram as epopéias que nela contém. É saber que os babilônicos, só pra usar um exemplo, foram o povo responsável pelas leis mosáicas e a bizarra estória do dilúvio. Mas o cristão comum, aquele mais fundamentalista, principalmente originado dos cultos pentecostais, não entende assim. Ele acha que a bíblia é a palavra original de deus e ponto final. Qualquer prova histórica que aponte a verdade é considerada coisa do demônio.


Conheci um pastor batista que afirmava ser pecado instruir-se. Estudar e ter um mínimo de conhecimento, para este pastor, era considerado um pecado de ordem gravíssima. E sabemos o porquê: a instrução leva ao questionamento e isto, para os que vivem da exploração da ingenuidade e credulidade dos mais simplórios, culturalmente falando, é um perigo assustador.


Claro que existem os ateus de fim-de-semana, que declaram o seu suposto ateísmo por rebeldia ou por necessiadade de aceitação dentro de um determinado grupo, mas são minorias.


Esta opinião acerca do que é “ser ateu” é uma opinião minha, particular. Ela foi moldada, principalmente, baseando-se naquilo que sou, que entendo e como costumo agir e através da observação e do contato que tenho com outros ateus, na maioria virtuais, mas que me possibilitaram tentar encontrar um denominador comum para definir, vagamente, como é e como pensa um ateu. Isto é apenas um texto que escrevo na tentativa de explicar para os que não são ateus e não entendem direito o que se passa em nossas cabeças céticas, mas não é nenhuma a regra a ser seguida, pois para ser ateu não existe regra, exceto o fato de não crer-se em divindades.


O ateu, afinal de contas, é uma pessoa como qualquer outra, o que nos diferencia da imensa maioria teísta da sociedade é que vivemos livres. Livres de um pecado que não cometemos, como o pecado original judaico cristão, livres do medo do castigo por raciocinar, livres do machismo imposto pela maioria das religiões, e principalmente, livres para viver.

domingo, 22 de novembro de 2009

Os Sinais do Fim dos Tempos




A maior precupação das grandes religiões monoteístas, principalmente do cristianismo, que possui um livro específico do qual se alega tratar do assunto, o Apocalípse, é o final dos tempos e o julgamento dos seres humanos, conforme a observação de seus livros sagrados.

No caso dos cristãos a preocupação é maior ainda, pois Jesus, o messias cristãos que voltaria para estabelecer o reino de deus, afirmou, em Mateus 16: 28 que “
Em verdade vos digo que “alguns há, dos que aqui estão, que não provarão a morte até que vejam vir o Filho do homem no seu reino”, e também, em Mateus 30:34 – “Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que todas estas coisas aconteçam.” Pois Jesus não cumpriu o prometido.

Desde o início do cristianismo que os seus adeptos esperam a volta do messias, que hoje, onde o estudo da história não mais sofre a censura criminosa que antes sofria por parte dos defensores desta religião, mostra-nos que nem é certo afirmar que ele um dia foi, quanto mais que irá voltar.


Os cristãos inventam mil e uma desculpas para justificar o erro das afirmações de Jesus contidas na bíblia acerca de sua volta iminente: que é erro de interpretação, que uma geração, para deus é medida, em termos de tempo, de forma diferente da qual nós os mortais medimos, que ele quis dizer outra coisa e que nós não sabemos interpretar os “mistérios de deus”, e etceteras intermináveis... Claro que um deus desses prefere usar de frases e meios complicados para manifestar-se aos seus lacáios, ops, digo, adoradores. Melhor seria, um deus do qual se diz amar extremamente sua criação, no caso nós, ter usado de meios, palavras e intenções mais claras, não é verdade? Mas para o cristão a coisa não é a assim tão simples, pois eles precisam do mistério, da magia e da incerteza para poder continuar a acreditar, pois se a coisa for mais “clara”, eles inevitavelmente verão que foram redondamente enganados.

Como já aludi anteriormente, além das palavras de Jesus para afirmar acerca do final dos tempos, os cristãos usam muito de um livro bíblico em particular, o Apocalipse, atribuído a João, o apóstolo mais novo de Jesus. Livro este que, para não ficar longe da fórmula apropriada no mundo cristão, é escrito de forma complicada, com figuras mitológicas de dragões, espadas e cavaleiros, fogo e, como parece ser mais uma preferência dos escritos bíblicos, muito, mas muito sangue.
O Apocalipse, ou revelação, muito provavelmente foi escrito por volta do ano 90 d.c, durante o reinado do Imperador romano Domiciano e foi redigido em grego, tendo como destinatários as comunidades cristãs da Ásia Menor. Os historiadores afirmam que Domiciano, que tinha sua “marca”(nome) em todas as moedas cunhadas por Roma, seria a dita besta que é referida no Apocalipse, pois o seu nome, através da gematria, método antigo de se atribuir número ao valor da soma das letras -pois não usavam-se, na escrita grega, os números e sim letras que faziam o papel deste – somando-as, chegamos a 666. Outros afirma que, usando-se o mesmo método, chega-se a Nero, outro Imperador não menos carniceiro do que Domiciano.Quem escreveu este livro, quis dizer que os cristãos venceriam a perseguição que Domiciano empenhava-se contra estas comunidades crédulas em Jesus. O Apocalipse tem o caráter da atualidade da época em que foi escrito. A volta de Jesus seria, na crença de quem escreveu, em pouquíssimo tempo, com a finalidade de estabelecer de imediato o reino prometido por Jeová ao seu povo. Reparem que o Jesus que é retratado no Apocalipse não possui o mesmo caráter de paz e de amor que, através dos tempos, da helenização e, posteriormente, ocidentalização do cristianismo, estamos acostumados a tratar. O Jesus do livro supostamente escrito por João é um Jesus de espada na mão, pronto para traspassar o fio desta no pescoço de quem não acreditou em suas palavras e, por fim, lançá-los ao sofrimento eterno no inferno. O Jesus apocalíptico está mais para Barrabás, pois a crença do povo da época era de que o messias voltaria como um guerreiro e não, como hoje, através de um discurso disfarçado pelos cristãos, no intuito de fazer parecer o messias como sendo um Jesus-Gandhi.

Mas, mesmo com evidências históricas que demonstram que o livro do Apocalipse é bem mais simples do que querem fazer-nos crer, os cristãos preferem acreditar que o fim dos tempos está próximo e, inclusive, parecem torcer por isso. Muitos afirmam que a hora é agora, que Jesus já está afiando a navalha de sua espada e encilhando o seu cavalo alado para vir, de uma vez por todas, instituir o reino de deus e castigar severamente os incrédulos como eu. Vários fatos, dos mais simples aos mais complexos, são apontados como sendo indicios de que o mundo está prestes a acabar.

Afirmam os cristãos, desesperados para ver sangue derramado-se e carne fresca queimando, que as evidências estão todas ai, aos nossos olhos, e que o pior cego é quem não quer ver (eles adoram estas frases de efeito). São filhos contra pais, guerras, desastres naturais, crimes sangrentos, entre outros fatos que apontariam para o fim inevitável e imediato. Mas será que, se analisarmos tudo com um pouco de cautela, teremos a mesma opinião devastadora destes crédulos sádicos?


Vivemos em um mundo que possui sim guerras, crimes horrendos e desastres naturais, mas, por incrível que pareça, a época em que vivemos é bem mais amena do que tempos atrás. A humanidade já conheceu guerras muito mais sangrentas e arrasadoras do que os poucos conflitos que existem atualmente. O mundo nunca esteve tão tranquilo, por maior absurda que possa ser esta afirmação que faço. Quem acompanha os noticiários sabe que não há exagero nas minhas palavras. Filhos contra pais? Bem, eventualmente acontece alguns casos, mas desde que o mundo é mundo que escutamos estas histórias, mas não tanto como em épocas passadas onde era quase uma regra, principalmente na classe dominante e política, onde reis eram destronados por seus filhos, padres eram mortos por seus filhos (sim, padres, você leu certo), papas eram mortos por interesses políticos e coisas do gênero. Hoje em dia notícias como estas nos espantam exatamente pelo fato de serem tão atípicas. Desastres naturais são também fatos que acontecem desde que o planeta se formou e sempre irão acontecer.
Nunca vivemos, principalmente no ocidente, tão irmanados com a democracia, com os direitos humanos e com a liberdade de ir e vir. Hoje as mulheres, na maioria dos países, já possuem o direito ao voto e, felizmente, igualdade de direito com os homens. A tecnologia nos permite a comunicação instantânea, a medicina cura doenças que antes acreditavam-se como sendo males espirituais e/ou demoníacos. Não existe mais a escravidão institucionalizada, os negros, no Brasil e EUA principalmente, tomam a cada dia mais espaço nas artes, política, esportes e na sociedade. As crianças possuem, como nunca na história da humanidade, direitos preservados e garantias a uma infância real. Ditadores autoritários e sanguinários são cada vez mais raros. Opções sexuais são respeitadas cada vez mais.Se o mundo tivesse de acabar por conta dos “sinais apocalipticos”, já deveria ter acabado há muito tempo, onde as “condições profetizadas” eram muito mais propícias para isso.

Temos um mundo perfeito hoje? É claro que não. Problemas ainda existem e sinto informá-los que sempre existirão. Fome, pobreza, criminalidade, preconceito, abusos, fazem parte da história da humanidade, mas o ponto que eu quero chegar é que, cada vez mais, as nações do mundo começam a dirimir estes aspectos negativos e a tentar solucionar tais males. Não estou defendendo nenhum campo político atual e sim tentando mostrar, aos olhos religiosamente mais cegos, que as coisas hoje são inumeras vezes melhor do que em séculos passados.


O planeta terra e a vida que nele contém, principalmente a humana, irá acabar? Com certeza, pois nada dura pra sempre, mas não vai ser, como alguns acreditam, em um festival carnavalesco, regado a espada e banhos de sangue, ao som de trombetas de ouro e julgamentos onde o direito ao contraditório e a ampla defesa inexistem e sim por nossa própria culpa. Estamos esgotando os recursos naturais de nosso planeta, a camada de ozônio é uma preocupação constante, as mudanças de clima, enfim. Nós, muito provavelmente, acabaremos com a nossa espécie neste belo planeta azul, por ignorância e teimosia própria e não pela providência e vontade dos deuses que inventamos.