domingo, 18 de outubro de 2009

A Moda dos Ateus




Pois é gente, tenho notado, principalmente nas comunidades ateístas do Orkut, que, para alguns, ser ateu é sinônimo de uma nova moda, um radicalismo a ser tomado frente à sociedade, uma rebeldia...

Nesses novos tempos de comunicação instantânea, com a internet, os sites de relacionamento, msn e afins, as “novas tendências” têm uma resposta muito rápida. Pessoas que não sabem ainda a diferença entre um prego e um parafuso aparecem, do nada, escrevendo, nas teclas da socieade pós Rebeldes, que não acreditam em deus, que odeiam deus (mas se não acreditam, como odiar?), que somente quem se declarar ateu é digno de ser considerado inteligente (é tipo um diploma automático, que desconsidera a imbecilidade e alavanca à sabedoria... é de doer...) e que todo o religioso deve ser tratado como um ser inferior intelectualmente e, em algumas concepções, fuzilado sem direito á defesa.

O mesmo tratamento que tivemos dos religiosos (e por muitas vezes ainda temos) estamos dispensando a eles. A repulsa, o pré-julgamento e o asco são, como ensina o livro sagrado dos cristãos: “olho por olho, dente por dente”...

Não posso, de maneira alguma, condenar os ateus que pensam assim, afinal, os ateus sempre foram vistos com os olhos religiosos da raiva e da incompreensão e, nada mais natural, que alguns tenham a mesma “consideração” pelos amigos do invisível. Mas será que esses “novos ateus” de fim de semana não acabam por manchar ainda mais a imagem dos ateus?

Conheço muitos ateus, por estas minhas andanças pelo mundo virtual, que têm feito um ótimo trabalho no intuito de esclarecer e elucidar da melhor forma possível o que exatamente significa ser um ateu, que não somos, diferentemente do que a maioria religiosa pensa, um bando de alienados que “desconhecem a palavra”, muito pelo contrário, pois a maioria dos ateus conhece muito melhor o livro sagrado dos cristão, que são a maioria em nosso país, melhor até do que eles que vivem com suas bíblias embaixo do braço. São pessoas sérias que estão criando comunidades e chats na internet para debater assuntos relevantes, fazendo vídeos e blogs, manifestando-se e demonstrando que nada temos de alienados, satanistas ou “rebeldes”. Encontros de ateus estão acontecendo a todo momento por este país, graças a estes ateus sérios e bem intencionados que colocaram a “mão na massa” e decidiram mostrar para todos os que tiverem interesse em ver que ateus são pessoas normais e merecem o mesmo respeito que os religiosos cobram pra si.

Mas dentro deste pequeno universo de atitudes positivas, aparecem os ateus da moda, os rebeldes de ocasião para por abaixo o pouco que conquistamos na tentativa de adquirir algum respeito. Parece-me impossível “filtrar” de modo positivo aqueles que são bem e os que são maus intencionados dentro do mundo virtual, mas creio que deveriamos ao menos tentar, pois do contrário, nunca seremos levados a sério.

domingo, 11 de outubro de 2009

Grupos



Em meados dos anos 80, lá por 1986 se não me engano, eu vivia a efervecência do idealismo juvenil. Bons tempos. Havíamos recém saído do famigerado regime militar (sei, sei.. “saído” não é o melhor termo a ser usado, mas vamos continuar nesta linha de pensamento...) e víamos a chance, não muito clara ainda, de que finalmente poderiamos votar pra presidente num futuro próximo e isto, na cabeça de um jovem de dezesseis anos, naquela época, era a chance real de ver o sonho de mudança que todo jovem possui (ou possuia, já não sei mais...) tornar-se realidade.

Ícones da resistência já podiam andar livremente e, o que é melhor, manifestarem-se publicamente. Leonel Brizola, Lula, Miguel Arraes, Prestes, Gabeira... Era a abertura iniciada no começo da década tornando uma forma mais clara aos nossos olhos e eu, que já sou metido por natureza, queria participar a todo o custo.

Naquele ano eu frequentava as reuniões da UJS, que engatinhava ainda, e quase me filiei a um partido de esquerda. Não tenho vergonha de assumir que durante a juventude eu tinha um pensamento socialista ferrenho. Lia Marx, sem entender muito bem e pensava que Lenin deveria ser cultuado como um semi-deus... Coisas de jovem daquela época, reprimido politica e socialmente pelo pensamento de extrema direita vigente no país. Hoje eu já não mais compactuo com uma idéia socialista plena, as pessoas mudam e entendem, aos poucos, como as coisas realmente funcionam (e eu tô chegando aos 40, né gente...). Mas tenho saudades daquele tempo em que pensavamos com muita ideologia mas com pouca lógica... faz parte do aprendizado...

Como eu mencionei acima, quase me filiei a um partido de esquerda. Quando eu estava já com um pé na porta da instituição veio a nóticia de que o partido em que eu iria me filiar decidira apoiar o Sr. Pedro Simon na disputa pelo Governo do Rio Grande do Sul... Achei aquilo um absurdo, pois o partido do Simon, de grandes histórias políticas no tempo da resistência, estava se transformando em um ninho de extremistas de direita, sem contar que era o partido do então Presidente da República, José Sarney... Desisti. Foi nessa época, aos 16 anos, que entendi o funcionamento dos grupos organizados: não existe um pensamento livre e sim uma obrigação de se acatar decisões, mesmo que você não concorde com elas...

Já nos anos 90, trabalhando diretamente dentro de diretórios e comitês partidários (pelo dinheiro e não por ideologia) fui definitivamente corroborando a idéia de que grupos organizados não combinavam com a minha sempre independente forma de pensar e de me manifestar. Então, definitivamente, decidi que sempre teria o meu pensamento próprio, longe de obrigações e de fidelidade e de grupos organizacionais.

Hoje vemos o que a política partidária faz com as pessoas. O Lula em que eu votei em 1989 não é o mesmo Lula de 2009, só pra ficar em um exemplo conhecido.

Por isso vejo com um pouco de receio a criação de grupos e de associações de ateus. Com qual finalidade elas estão sendo criadas? Será que amanhã estes grupos não serão vistos como entidades religiosas sem divindades? Confesso que vejo tudo isso com os olhos da desconfiança, não da integridade de seus membros e sim do papel que estas organizações irão tomar na pretensa representatividade dos ateus.

Torço, honestamente, para que estes grupos façam um bom trabalho em prol da desmitificação do “ser ateu” e que consigam algum objetivo prático em favor do laicismo e da separação definitiva do Estado com a mistificação e a religião. Mas prefiro ficar olhando de fora, apoiando quando se fizer algo realmente útil e digno de louvor, ou criticando quando se estiver indo por caminhos completamente desnecessários, inúteis e/ou errôneos. Pois se eu estiver “dentro”, não terei como assumir quando houver o erro e serei suspeito quando aplaudir a um grande gesto ou decisão em algum objetivo concreto alcançado.

Vamos aguardar o andar da carroagem...